quinta-feira, 28 de maio de 2015

Enquanto seus olhos forem meus - Final

Giulia jantou e entre um papo e outro com sua mãe, pegava o celular para ver se havia chegado alguma mensagem de Alice. E foi assim durante toda aquela noite, o dia seguinte e o outro. Alice não atendia ligações, seu telefone estava desligado. Giulia chegou a se preocupar e pensou em ligar para o pai de Alice, mas preferiu esperar até o fim daquele dia.

Sábado chegou e era dia de mais um show Giulia no bar de Sr. Pereira. Ao acordar, às 10h, escutou a voz de Paulo vindo da sala. Abriu a porta do seu quarto para escutar melhor o que ele falava com a sua mãe.

- Pois é, Chiara, foi mais proveitoso do que imaginávamos. Eles adoraram a proposta. Ah, e o vinho também! – Paulo soltou uma gargalhada alta e engraçada, sua característica.

Giulia, então, se deu conta de que Alice já tinha voltado de viagem e foi correndo para a sala.

- Bom dia, minha filha!

- Giulia! Cada dia mais bonita! – Elogiou Paulo.

Giulia deu um beijo na mãe e agradeceu o elogio.

- E Alice, não veio? - Questionou Giulia prendendo seu cabelo em forma de coque.

- Veio, sim, mas está cansada. Voltou dirigindo, está em casa dormindo. Apareça por lá depois! – Respondeu Paulo.

Giulia sorriu, agradeceu o convite, pediu licença e foi tomar café, pensando em passar mais tarde na casa de Alice.

E assim fez. Às 20h pegou o seu carro e foi até a casa de Alice, mas ninguém a atendeu. Tentou mais uma vez ligar, mas o telefone continuava desligado. Desistiu e foi direto para o bar. Naquele dia o bar estava bem cheio, mas Giulia só desejava que Alice aparecesse até o momento em que começasse o seu show.

Ela, então, afinou seu instrumento, fez um breve aquecimento vocal e começou o seu voz e violão. A sua voz doce, mas forte e marcante ao mesmo tempo, deixavam todos boquiabertos e vidrados naquela menina tão jovem e talentosa em cima de um pequeníssimo palco de um boteco.

Alice acordou às 23h e percebeu que havia dormido o dia inteiro. Ligou o seu celular e viu milhões de chamadas perdidas de Giulia e algumas mensagens. Leu tudo com atenção, inclusive a última que Giulia havia mandado, naquele mesmo dia, horas mais cedo:

“Estive na porta da sua casa, toquei a campainha, bati, gritei, até pedra na sua janela eu joguei, mas ou você realmente apagou ou não quer me receber. Se ainda vir essa mensagem hoje, por favor, apareça no bar. Começo às 22h e termino às 00h.”

Alice pensou no que ia fazer, levantou, mas sua preguiça era tão grande que se jogou novamente na cama.

“São 23h, Alice, ou você vai logo ou você não vai, não é tão difícil assim...” – Alice pensava.

Pegou seu celular e digitou uma mensagem para Giulia.

“Acabei de acordar e parece que um trator passou em cima de mim. Meu pai está na casa do meu tio. Vem pra cá quando acabar aí. Não posso prometer nada além de pizza. Te esperando...”

Giulia terminou o show, feliz com a receptividade do público. Enquanto guardava seu equipamento, lembrou de pegar seu celular e viu a mensagem de Alice. Despediu-se de Sr. Pereira, que nesta noite, lhe pagou o dobro do combinado de tão feliz e satisfeito que estava com o sucesso que Giulia estava fazendo em seu bar.

Eram 00:47 quando Giulia estacionou em frente à casa de Alice. Tocou a campainha e Alice abriu a porta.

- Oi... – Disse Giulia em um tom um tanto quanto seco.

- Oi... – Respondeu Alice.

- Por que você sumiu, não me disse que ia viajar com seu pai e ainda deixou o celular desligado, me matando de preocupação? – Questionou.

- Eu precisava ficar sozinha, Giulia. Sei que foi errado, desculpa, mas me fez muito bem.

Alice colocou seu violão em cima do sofá da sala e sentou ao lado.

- Espero que a gente possa resolver tudo que temos que resolver hoje. – Respondeu Giulia, esperançosa.

Alice agachou na frente de Giulia, colocou a mão nas pernas da amiga e respondeu.

- Nós vamos. Mas, primeiro, vamos comer? Sabe que não sou lá essas coisas na cozinha, mas me arrisquei a fazer uma pizza pra gente. – Sorriu.

Giulia riu.

- Tudo bem. Estou mesmo com fome.

Alice já havia deixado a mesa da sala preparada. Retirou a pizza do forno, serviu e as duas comeram em um silêncio um tanto quanto constrangedor.

- Você vai querer mais? - Perguntou Alice.

Giulia agradeceu, disse que estava deliciosa, mas que não queria mais.

Alice deixou as coisas na cozinha e chamou Alice para o quarto.

- Vamos lá pra cima, está mais quentinho que aqui. – Alice convidou.

Giulia pegou seu violão e as duas subiram para o quarto. Deitaram uma do lado da outra na cama.

- Giulia, olha, eu nem sei como te dizer isso, mas... – Giulia a interrompeu.

- Não, não precisa falar nada.

Alice fez cara de quem não estava entendendo nada.

- Mas você mesma disse que quer resolver as coisas e eu concordo, vamos conversar e... – Alice a interrompeu mais uma vez.

- Antes de qualquer coisa, eu preciso te mostrar isso aqui. – Giulia respondeu, se levantando da cama.

Ela pegou o violão, o tirou da capa e dedilhou uma música.



"Enquanto seus olhos forem meus
Eu prometo não olhar pra mais ninguém, meu bem
Oh, meu bem!
O que é que tem nesse mundo
Tão grande e redondo
De tantas voltas e lugares
Que me prende aqui
Perto de você

Eu sei
Um dia todos eles vão saber
Que a minha vida é você
Mas enquanto esse dia não chegar
Eu só quero ver o sol raiar
Nos seus braços

Eu me afoguei em dezenas
Milhares de vinhos de todos os tipos
Buscando o seu sabor
O seu gosto
O seu rosto
E agora que eu já sei
Onde eu quero ficar
Onde é o meu lugar
Eu prometo

Enquanto seus olhos forem meus
Eu prometo não olhar pra mais ninguém, meu bem
Oh, meu bem!
O que é que tem nesse mundo
Tão grande e redondo
De tantas voltas e lugares
Que me prende aqui
Perto de você
Perto de você
Perto de você
Dentro de você."


Alice a ouvia cantar totalmente encantada e sem piscar. Prestava atenção nas expressões de Giulia, na sua emoção, em como conduzia as notas no violão e em cada palavra que construía aquela música, que a deixou completamente apaixonada.

- Nossa, Giulia... que lindo isso! De quem é a música?

- Sua! – Revidou Giulia.

Alice franziu a testa.

- Minha?

Alice colocou o violão no chão cuidadosamente e chegou mais perto de Alice.

- Sim. Sua. Cada palavra, cada estrofe, cada nota, cada tom... tudo seu, tudo pra você.

O coração de Alice disparou.

- Deixa eu ver se é isso mesmo, se eu entendi. Você está me dizendo que compôs uma música pra mim? Não, uma música não, essa música! Você EStá falando sério? – Alice perguntou incrédula.

- Estou. Tudo que está nessa música é o que eu venho tentando te falar há algum tempo. Na verdade, desde que viajei e tivemos aquela briga horrível. Aquele tempo todo que ficamos sem nos falar me mostrou que o que eu sinto por você é diferente. – Giulia respondeu com lágrima nos olhos.

Em um gesto impulsivo, Alice segurou o rosto de Giulia e deu um beijo em sua boca. Não era preciso estar no mesmo corpo que elas para sentir o coração das duas pulsando a mil.

Alice se deu conta do que fez e parou.

- Desculpa. Eu não sei o que eu te digo, o que eu te falo, o que eu faço.

- Talvez eu não tenha falado e demonstrado isso tudo que estou sentindo da melhor forma, no melhor momento, mas eu não aguentava mais esperar. – Giulia desabafou.

- E a Beatriz? – Alice perguntou.

- A Beatriz foi um caso. Foi um momento que eu quis ter pra entender se o que eu sentia era real, se o que eu queria era realmente verdadeiro.

- E...? – Questionou Alice.

- E aí que eu descobri que é. Que tudo que eu realmente sinto é de verdade. Mas que é única e exclusivamente por você. Fiz também pra tentar te apagar de mim por não saber o que você pensava e sentia, por ter medo de estragar tudo e por querer me livrar disso, mas não consegui. É muito mais forte que eu, Alice.

- Por que se livrar? Você tinha que ter falado comigo... eu fiquei louca com a sua aproximação com a Beatriz, primeiro por achar que estava me trocando, mas depois eu senti que isso ia além de amizade, eu percebi que podia estar perdendo você de um outro jeito e enlouqueci mesmo.

- Então isso quer dizer que você quer a mesma coisa que eu? – Giulia perguntou.

- Não. Eu quero você. Até onde eu sei você não quer você. Você me quer. – Alice riu.

Giulia também abriu um sorriso.

- Então fica comigo? – Pediu Giulia.

- Até o fim da minha vida. – Respondeu Alice.


Um beijo intenso pôs fim na conversa e deu início a uma linda história de amor. E naquela noite elas se amaram, despidas de preconceitos, de incertezas, de roupas.

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