segunda-feira, 11 de maio de 2015

Enquanto seus olhos forem meus - Parte V

Giulia contou como foi, mas não contou que tinha saído com Beatriz.

Alice não estava muito bem e Giulia logo percebeu. Quando a indagou sobre o que estava acontecendo, Alice disse que ficaria mais dois finais de semana fora e que provavelmente mais dias durante a semana faria viagens curtas com o pai, o que atrapalharia das duas ficarem juntas.

Giulia a abraçou e disse que estava tudo bem.

Nesse meio tempo, Beatriz trocava mensagens com Giulia, ia ao seus shows e os finais eram sempre iguais: saíam juntas para algum lugar. Giulia gostava de como as coisas estavam acontecendo, mas tinha algo ali que não se encaixava. 

Alice na última de suas viagens repentinas conseguiu chegar antes do previsto e foi direto ao bar onde Giulia tocava. Quando chegou, uma surpresa: Giulia já tinha ido embora. Quando perguntou sobre o show para Sr. Pereira, ele disse que havia terminado há cerca de meia hora e que Giulia tinha saído com uma amiga.

Alice ficou paralisada tentando pensar com quem que Giulia podia estar e um filme passou em sua cabeça, do dia em que aquela menina de outra cidade estava no bar. Lembrou do rosto dela, da expressão, do pedido, do olhar de Giulia pra ela e da conversa ao pé do ouvido que tinha presenciado.

Saiu do bar pra tentar achar Giulia. Estava com o carro de seu pai e rodou pela cidade. Ligou no celular da amiga, mas só dava caixa postal. Quando estava prestes a desistir, avistou o que seria parte do carro de Giulia estacionado um pouco distante da estrada, no começo de uma trilha. Estranhou muito aquilo. Giulia jamais deixaria seu carro ali, mesmo que fosse de dia. Parou seu carro do outro lado da rua e desceu, indo em direção àquela estranha cena, que parecia ter saído de um filme de suspense. Conseguia até escutar as batidas de seu coração de tão altas que eram. "Giulia precisa de ajuda", pensava durante o caminho, que parecia demasiadamente longo, até o pequeno automóvel parado fora da estrada.

Foi contornando o carro com cuidado, para não ser percebida. Quando conseguiu ver o que se passava lá dentro, um nó formou em sua garganta e lágrimas ameaçavam brotar em seus olhos. O choque fez com que levasse as mãos à boca. Na verdade, toda a reação do seu corpo não acompanhou o seu raciocínio, que só foi de querer entender o que estava acontecendo. Voltou correndo para seu carro, arrancando dali e indo direto pra casa, sem perceber que Giulia a havia visto. Só pensava que sua amiga estava beijando uma garota.

Chegou em casa e foi para o quarto, trancou a porta e se forçou a fechar os olhos. Como se isso fosse mudar o que tinha acabado de ver. Também não entendia como aquilo podia incomodar tanto. Por o que pareceram horas, ficou assim, de olhos fechados, sem conseguir dormir. Ouviu vozes no andar de baixo, logo em seguida o som de passos cada vez mais próximos. Curtas batidas na porta fez com que arregalasse os seus olhos. 

- Quem é? - Praticamente cuspiu as palavras.

- Amiga, sou eu. Abre? 
Giulia queria saber como explicar o que Alice viu. Como explicar que nesses últimos dias estava se encontrando com uma garota? Não sabia se Alice entenderia ou aceitaria a situação.

Depois de refletir, Alice começou a se levantar e abriu a porta. Quando o fez, viu que Giulia estava sem graça.

- Posso entrar? - Questionou Giulia.

Alice só confirmou com a cabeça e voltou para a cama. Giulia fechou a porta e sentou ao lado da amiga.

- Você está bem? - Perguntou Giulia.

- O que você estava fazendo? Sabe... O que eu vi. Você e aquela menina do bar. 

- O nome dela é Beatriz. E, eu não sei... Aconteceu. Só isso. Aconteceu. - Disse Giulia em meio a confusão de seus pensamentos.

- Aconteceu... Como assim aconteceu? Quando foi isso? Hoje?

- Não. Desde a minha estreia.

- Como? - Alice não podia acreditar no que ouvia. Giulia teve tempo de lhe dizer o que estava acontecendo e preferiu ficar em silêncio. – Por que você...

- Eu quis, mas eu sei lá. Não tive coragem, Alice. Como chegar pra você e dizer: "Oi, amiga, estou ficando com uma mulher e, a propósito, você está bem?" - Eu nunca senti nada disso antes, você sabe.

- Era só chegar e dizer: "Oi, amiga, estou ficando com uma mulher." Somos amigas, até onde eu sei, ou pelo menos éramos, antes dessa garota aparecer.

Giulia ficou sem reação e o silêncio tomou conta do quarto. Alice a observava, ainda não acreditando muito no que estava acontecendo.

- Bom, eu vou embora. Quando estiver disposta a conversar, me procure. Ou não. – Disse Giulia extremamente seca, enquanto se levantava.

Alice ainda pensou em tentar impedi-la de ir embora, mas repensou e ficou estática, vendo Giulia abrir a porta do quarto e sumir ao fechá-la.

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