quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Processo Criador

Um caderno vazio e um monte de ideias
Um corpo arredio marcado por guerras
Linhas vazias, o branco, o nada
A mente agitada, calada, cansada
Um caderno vazio inspirador
Um poema sombrio
Um conto de fadas
Na ponta da caneta esferográfica
A tinta fantástica
Há de contornar belas e suaves letras
Compondo e transpondo o que se cala
O que não se vê descaradamente
Um caderno vazio e um monte de ideias
Prontas para tomarem conta de um lugar adequado
Escritas num papel perfeito
Em tons de preto, azul ou vermelho
Com longos espelhos de um poeta escritor
De um ser humano sofredor
Que não vive sequer um segundo sem dominar a arte
Que não pensa sequer um segundo que abandoná-la
Não é parte de uma vida infeliz
Por tão pouco graciosa
Um parnasiano realista
Bucólico romancista
Que já preencheu o vazio de seu coração
E fechou o caderno, já rabiscado
Com rascunhos amontoados
De versos, frases, poesias e textos
De um puro amor casado com uma simples paixão
Um poeta satisfeito com sua faceta
Envolto de emoção

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Deusa do amor

Ouvi de longe um canto suave, encantador, envolto de doçura e mágica. Um tom calmo e enfeitiçador.
Não bastou muito para envolver-me e despertar meu interesse em segui-lo.
Caminhei com passos leves, desconfiados e com um ouvindo atento, apurado. Um efeito sonoro que jamais ouvi antes.
A vi sentada bem perto de um caminho montanhoso, vasto de verde com um céu aberto.
Era um cenário alucinante e impecável.
As belezas se confundiam: mulher, voz e natureza.
Parei perplexo a uma certa distância e já não tinha mais sequer consciência de mim.
Veio em minha direção, ainda cantando e não movi absolutamente um dedo.
Foi a primeira vez que lábios quentes e misteriosos encontravam os meus.
Lábios rosas atraentes, apaixonantes, doces e atrevidos.
Estava dominado por aquela mulher e a queria naquele instante para o resto da vida.
Seu canto invadiu meus ouvidos com seus lábios macios, e dominou meu corpo imóvel.
Num piscar de olhos repentino me vi sozinho.
Belisquei minha pele na tentativa de acordar de um possível sonho.
Apenas me auto judiei.
Era incrivelmente real.
A procurei por todas as partes e nenhum rastro ou pista.
De fato ela se foi.
Um reino a esperava logo ali, em cima dos meus olhos e distante das minhas possibilidades humanas.
O Olimpo era o seu recanto e mal podia acreditar que caí em seu encanto majestoso.
Adeus, Afrodite, meu coração não é mais meu. Levou consigo.
Cante, por favor cante mesmo que distante, mesmo um instante.
A ouvirei com todo o meu amor.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Anjo mau


Um anjo mau de asas quebradas
E veneno nos olhos
Bateu à porta dos meus sonhos
Me oferecendo encantos
Malignos enfeitiçantes
Tão tortuosos e apaixonantes
Quanto seus olhos penetrantes
Fui tentando sobreviver
Ao seu poder atração
Fui amando seu jeito de ser
Sem critério e projeção
Do que queria que fosse
Do mais perfeito ser
Ao doce mel que nos colava
Regredi ao meu sofrer
Por medo de me perder
Em meio a tanto querer
De um ser tão delinquente
Na forma mais eloquente
Quando me tocava
Me deixando ofegante
Num ritmo quente
De um amor ardente
Um anjo mau de cachinhos perfeitos
Ondulados e pretos
De sorriso infantil
Jeito juvenil
E sex appeal viril
Um adulto complexo
Uma relação sem nexo
Um poder e um retrocesso
De um auê de amor
Finito
Enfim
Infinito
Em meu incansável sonho


sábado, 5 de janeiro de 2013

A vida não espera

Meus ouvidos ao som de The Strokes, meu corpo recostado na minha confortável e deliciosa cama e meu pensamento imerso em devaneios e lembranças, um tanto quanto perturbadoras, mas me faziam sentir que a vida ainda pulsava em mim. Meus olhos, por ora abertos, só enxergavam o teto em cor verde claro. Quando fechados, só viam um filme em preto e branco passar em flashes curtos: eu e você e mais tudo o que isso envolvia.

Por um instante me surpreendi com meu celular vibrando. Era quem eu não imaginava que poderia ser, mas no fundo, quem eu gostaria imensamente que fosse: você. Eu só tinha duas opções óbvias, atender ou não atender. Nessa altura do campeonato, a escolhida foi a primeira.

- Oi.

- Oi. Achei que não fosse me atender.

Respirei fundo e continuei.

- Você sabe que eu não deveria, mas um impulso maior me disse que eu tinha que atender.

- Ainda bem que você tem esses bons impulsos.

Contive um sorriso com seu tom de brincadeira.

- O que quer? – Questionei com curiosidade.

- Direto ao ponto? Bom, você.

Gelei.

- Por que então não estamos juntos? Por que nunca tivemos? – Disse com desconforto.

- Por que... ah... talvez nunca nos esforçamos. Mas... quero tentar, eu não penso em outra coisa que não seja estar contigo.

Engoli a seco. Segundos atrás eu fazia o mesmo.

- O que a gente faz? – Disse em meio a essa conversa tão inesperada.

- Ficamos juntos. Só isso. Apenas isso... dá uma chance pra nós dois. Gosto de você e não vejo a hora de te envolver em meus braços e te amar, amar com um beijo, com meu toque, com minhas palavras, com meu olhar.

Engoli a seco novamente. Por essa eu não esperava. Meu coração então começou a me cutucar e pedir pra que eu respondesse com rapidez e à altura. Não sei se consegui.

- Eu estava pensando em você também. Acho que sabe que o que acabou de dizer agora é talvez, o que mais existe em comum entre nós. – Tirei um peso das costas.

- Deixa?

- O que? – Perguntei com inocência.

- Eu cuidar de você, ficar do seu lado e dar todo o amor que eu posso dar pra alguém. Deixa?

Parecia não acreditar no que eu estava ouvindo, mas uma chama de felicidade me dominou. E eu queria, queria muito deixar.

- Não sei por que nem como, mas de algum modo eu estava esperando por isso. Eu quero você!

Desliguei o telefone e fui ser feliz. A vida não espera
.