sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Em busca do arrependimento

Vivo procurando o que não me procura, buscando o que não me espera, e mesmo sabendo disso continuo esperando que venha me procurar, que venha me buscar.
Passo o dia inquieta, inquieta a ponto de só sossegar quando me arrepender. E me arrependo. Sempre.
Cada atitude impensada, gestos e palavras ditas que podiam ficar só no: - E se eu fizesse, demonstrasse, falasse isso...
Mas logo depois vem: - Por que não fazer, demonstrar, falar isso... ?
Já me arrependi. Já fiz. E você... bem, você não me procura, você não me busca, você não quer, não, não me quer.
Eu perdi minha cabeça, perdi a razão. Fui dominada pela emoção, pelo impulso e pela aparente esperança que tenho.
Antes fosse só isso que eu tenho. Tenho tanto que não cabe em mim, não cabe aqui.
Pela milésima vez vou ter que jogar esse tanto fora. Não faço as escolhas certas.
Miro sempre no alvo errado. Atiro. Lanço a fecha. Tudo volta pra mim, da pior forma possível.
Admito que deve me faltar inteligência. Mas como ser inteligente?
Deixar de ser intensa, expansiva, amor à flor da pele? Não sei se eu consigo.
Não sei ser metade de absolutamente nada.
Mas se eu pudesse, eu faria metade de você viver pra me esperar, me procurar e finalmente me buscar.
Só tenho um coração, mas não sou egoísta: ele é inteiramente seu.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Desapego

Eram 2 horas da manhã. Vagando pela cidade deserta, me sentia um fantasma perdido, sem direção, sem alma, sem qualquer rumo.
Diante do deserto, uma surpresa: um único bar aberto, com umas 5 pessoas dentro.
Não precisei pensar muito. Pra lá que eu fui.
Chegando, notei que o nível de animação não era o dos melhores e mais contagiantes.
Não sei se qualquer outra pessoa que se encontrasse na minha situação, permaneceria naquele ambiente, que no minimo levaria a divagações, pensamentos distantes ou até mesmo, quem sabe, conclusivos.
Ali, qualquer coisa de ruim que estivesse sendo sentida, seria exposta. Mas... o que esperar encontrar em um bar aberto 2 horas da manhã com 5 pessoas?
Sentei. Sentei distante de todos. De onde estava podia ver a rua, um pouco do céu, cada ser que lá estava e o balcão repleto de bebidas.
Estiquei o braço bruscamente acenando para o garçom que estava perto.
Pedi um conhaque, puro.
Ao pedir, peguei o garçom de surpresa. Ele ficou alguns segundos olhando meu rosto, diria até que estava esperando que eu dissesse: - "Desculpe, falei conhaque, puro?! Foi engano."
Sou uma mulher, sou sensível de natureza e conhaque está fora de cogitação: - "Traz um chazinho mesmo!"
Mal sabia ele que se eu pensasse em pedir um chazinho, no mínimo seria um bem psicodélico para me levar pra bem distante dali.
Olha, não sou nenhuma usuária de psicodélicos nem nada do tipo, mas naquele momento não me faria muito mal.
Por fim ele trouxe meu "afoga mágoas."
Mágoas, que mágoas? Eu falei mágoas?
Não sei o que se passa aqui dentro de mim. É um misto, algo como uma salada de decepção, frustração, dor, agonia, nostalgia.
Não sei. Virei aquele copo, mas foi tão subtamente que os 5 homens sentiram uma ponta de inveja do meu poder boêmio.
Bati o copo na mesa, acenei para o garçom mais uma vez.
Pedi um whisky. Precisava diferenciar. Qual é a graça de viver na igualdade, de beijar as mesmas bocas,  sofrer pelas mesmas coisas e pessoas, e beber a mesma bebida a noite toda?
Virei o whisky também e decidi fumar um cigarro. Pedi outra dose de whisky e acendi meu cigarro. Meu erro foi esse, ter acendido o bendito cigarro. Calmamente comecei a pensar nas coisas, pensei na tal igualdade, nos tais beijos, nas mesmas pessoas, e ai começou: beijo... pessoa, beijo... pessoa... ê saco!
Um relacionamento mal terminado, uma história complicada, desavenças, desencontros, enganos, infidelidade e eu disperdiçando todo amor que eu podia dar para alguém...
Minha cabeça começou a girar, fui tomada por uma coisa muito estranha.

- Garçom, uma dose dupla de desapego, com gelo por favor.
Todos no bar me olharam, o que não é grande coisa, porque todos, neste caso, eram 5 homens bêbados e obcecados por algum fantasma da vida.
 - Garçom, uma dose dupla de desapego, com gelo por favor! - E nada.
Será que esse maldito infeliz não está me ouvindo? Será que eu grito? Jogo meu cigarro pra cima? Tiro a roupa?
 - Garçom, uma dose...
- Acho melhor a senhora se retirar. Não está falando coisa com coisa, não aparenta estar bem. Não vou mais te servir por ordens do meu patrão.
- Quem você e o seu patrão pensa que são? Chame outro garçom, eu tenho dinheiro. Melhor, chame o seu patrão. Não saio daqui.
Como eu poderia imaginar que o patrão era simplesmente o diabo em pessoa?
O satanás que me perseguia há tanto tempo, em pensamento e sonho.
Ali estava ele, vivo, super presente na minha frente. O infeliz causador de tanto descontentamento e infelicidade.
Aquele que acabou com a minha vida. Aquele que jogou ao vento tudo que eu tinha pra dar a alguém.
Não dei chances. Deixei o dinheiro na mesa e saí pela porta com meu copo na mão.
Ele estava vazio.
Percebi então, naquele momento, que de fato não bebi conhaque ou whisky.
Bebi desapego. E por ter bebido, tive coragem o suficiente para ter abandonado quem tanto me machucou.
Atirei o copo na calçada. E continuei andando.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Arte de te desejar

Eu não entendo. Não entendo essa necessidade de ter que de algum jeito estar perto de você. Às vezes é meio agoniante, como se fossemos dois ímãs querendo se atrair e nada de magnetismo. Não entendo a Física.
Não entendo a Química também. Tem algo diferente entre nós. Uma fórmula anormal, uma cadeia cíclica, sei lá.
Nem a Matemática, que parece óbvia, eu entendo.
1 + 1 é igual a 2, certo? Certo.
Eu + Você é igual a... ? Não entendo.
Não quero nem entrar no detalhe de também não compreender o Português. Não há palavras capazes de me explicar o que está acontecendo.
Não tenho pra onde correr, não sei o que faço.
Sinto necessidade de você... não sei porquê. Você sabe?
Ando pensando no dia que vamos nos encontrar - se é que ele vai chegar... - na roupa que eu vou usar, como vai me olhar. No tamanho da minha timidez e da vermelhidão que certamente vai estar na minha bochecha.
Minhas mãos já começaram a suar.
Mas sei lá. Não sei mais o que digo, penso ou sinto.
É estranho. Esquisito. Meio doido. Mas é bom, é, é bom. Gostoso, por mais confuso que pareça.
Que bem que você me faz.
Acho que a matéria que melhor me clareia as ideias é Artes.
Você é como uma bela obra de arte que eu não canso de admirar.
É um objeto aurático: aquele cultuado, cercado de mistério, magia, mito, que transcende qualquer mera expectativa. Não basta te olhar pra te entender. Tem que entrar em você, te conhecer, te desvendar.
É alucinante! Mas é tão apaixonante...
Suas palavras soam como música. Eu vicio.
Por vezes penso que pode ser um personagem fictício criado pela minha mente cineasta. Mas não, acho que não. Você existe. Existe pra mim.
É vida pra guardar na minha vida.
É esperança que não morre.