segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O pequeno grande Thomas

Thomas não via a hora de chegar o seu dia preferido do ano. Ele contava nos dedos os meses que faltavam a cada um que terminava. Perturbava a mãe e o pai e sempre tinha a resposta na ponta da língua, quando seus amiguinhos perguntavam do que ele mais gostava no mundo: o Natal.

- O Natal? Hahaha, você é maluquinho! Eu gosto de futebol!

- E eu de vídeo-game!

- Sabe o que eu gosto mais? De ver tv, passear, brincar com meus amigos.

Thomas sempre ouvia coisas desse tipo em resposta. Ele apenas sorria e dava de ombros.

Ele era fascinado pela magia natalina. Obrigatoriamente, na primeira semana de dezembro enfeitava sua casa. A árvore, o presépio, as meias, os pisca-piscas. Papai Noel já não existia pra ele. Não fisicamente como um dia, quando crianças, achamos que ele existe, mas ninguém, absolutamente ninguém podia interferir na sua imaginação e nos seus pensamentos. Nesses lugares o bom velhinho era mais vivo que qualquer um.

Thomas adorava ver o brilho nos olhos da família durante a ceia, ao brincar de amigo oculto e quando meia noite todos eram infinitamente afetuosos.

Mas por que ele era desse jeito, tão amante do Natal e tão radiante nos preparativos e no dia? Porque Thomas sabia que aquele era um dia, um único dia no ano em que ele podia ver a felicidade em forma concreta. Porque ele sabia que sempre se lembraria de algum fato daquele dia, seja por um presente marcante, por uma comida gostosa, por um tio chato ou bêbado, ou simplesmente pela reunião que ele tanto amava poder participar. Infelizmente o natal não poderia e estender para o resto do ano, então ele fazia questão de preparar tudo nos mínimos detalhes, milimétricamente bem feito pra nunca mais esquecer e sempre manter aquele amor vivo dentro dele.



Feliz Natal a todos os meus leitores!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Jacinto

Jacinto
Já sinto dor e agonia
Tristeza e melancolia, Jacinto
Já sinto insegurança, inquietude 
E perda de lembrança
Jacinto
Já sinto o som da porta fechando
Dos meus olhos escurecendo
Do seu nome se apagando
Já sinto, Jacinto
Jacinto
Já sinto meu cinto afrouxando
Meu carro batendo
Minha vida acabando
Já sinto tudo se reduzir a pó

O mundo acabar
Nosso sofrer e nosso penar, Jacinto
Já sinto, Jacinto
Nosso castelo de areia desmoronar
A água do mar secar
Já sinto minha perna cambalear
E o nosso caminho se descruzar
Já sinto
Jacinto.

domingo, 18 de novembro de 2012

Hipóstase

Estava pensando em te conquistar. Mesmo sendo imprevisível. Mesmo sendo dissimulado. Mesmo estando do outro lado. 
Estava querendo uma chance pra nós, um momento a sós. 
Estava desfrutando o sabor dos teus beijos e teu toque em imaginação. 
Estava comprando as passagens, quase o avião. Mesmo assim não deixei de viajar. 
Não parei de te desejar. Mesmo sendo uma mentira. Mesmo sendo uma tragédia anunciada. 
Surfei, peguei a onda na crista. você minha prancha me manteve em pé até quando foi conveniente. Minutos. Caí. Não. Você me empurrou. 
Como na capoeira: um golpe, uma rasteira. Uma aqueda. 
Caí de mal jeito no mar. Doeu. Sorte que sei nadar. Sorte que o fundo não era tão longe do raso. 
Meu avião decolou, mas forcei o pouso. 
Em terra firme, já posso me rearrumar. 
Estava pensando em te conquistar. 
Estava só pensando.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Janela da alma


Eu vi uma janela no olhar de uma criança
Eu vi em seu rosto uma esperança
De mudar o que parecia impossível
Eu vi um ser indefeso
Intocável e ileso
De qualquer culpa e afins
Eu vi uma janela no olhar de uma criança
Um suspiro de dor com sabor de vingança
E um semblante inesquecível
Eu vi um tamanho desprezo
Sem causa e efeito
Que pôs em prantos o meu peito
Eu fui uma criança
Com olhar de esperança
Sede de vingança
Dor e mágoas
Que tanto transbordavam em lágrimas
Dignas de uma infinita fraqueza
No espelho hoje eu vejo
Um adulto acabado
Um ser maltratado
Pelo desamor de um pai amaldiçoado

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Tormento

Eu não sei como eu cheguei até aqui. Não sei como adormeci. Mas ao abrir os olhos a única coisa que enxerguei foi o preto, o vácuo, o escuro.
Eu não encontro um feixe de luz qualquer que me oriente. 
Entre o meu desespero e o vazio, me concentro em apalpar o que me cerca a fim de reconhecer uma saída. Tentativas inúteis. 
Deslizo minhas costas na parede até sentar no chão com as pernas dobradas. As envolvo em meus braços e num ato medroso, abaixo minha cabeça até que minha testa encoste em meus braços. 
É assim que vou ficar, por não sei quanto tempo, até que eu possa novamente ver a luz.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Coração puro


- Pai, pai!
- Oi, filho.
- De onde surgiu o amor?
- João, o pai tá lendo jornal agora, conversamos depois.
- Não, pai... só me responde a pergunta.
- Depois, João.
- É rapidinho, vai. Você me responde e eu vou pro meu quarto brincar.
- Tá bom. Fala aí, cara, qual é a pergunta?
- Eu acabei de fazer...
- Faça de novo, estava lendo.
- Eu quero saber de onde veio o amor.
- João, de onde você tirou isso?
- Não sei, pai. Só quero saber de onde ele veio.
- Ah, filho, o amor... o amor...
- Você não sabe, né pai?
- Você me pegou desprevenido. Na verdade eu nunca pensei nisso.
- Então pensa agora e me responde!
- O amor vem do ser humano, da natureza, vem do mundo, do homem.
- E da mulher não?
- Filho, você está apaixonado?
- Não sei, pai. Na verdade eu estou sentindo umas coisas estranhas.
- Que coisas?
- Como se tivessem borboletas batendo as asas aqui na minha barriga.
- E quando isso acontece, filho?
- Quando a Yasmin chega no colégio, ela sempre vem e me dar um beijo na bochecha. Minhas mãos ficam suadas, eu fico nervoso.
- Fica nervoso por que gosta ou por que não gosta do carinho dela?
- Não sei, pai. Ela me deixa nervoso... quando ela fica perto, me olhando muito. Dá esse negócio na minha barriga. Será que dá nela também?
- Não sei... por que não experimenta perguntar pra ela?
- Não consigo, parece que não sei mais falar quando ela fica do meu lado.
- Respira com calma e conversa com ela.
- E se eu não conseguir?
- Vai conseguir! Ela é bonita?
- Ela tem olhos cor de mel.
- Já vi que gostou dos olhos dela.
- É que os olhos dela estão sempre olhando os meus. Não entendo isso, pai.
- Um dia você vai entender...
- Brigado, pai. Vou brincar com meus carrinhos
- Espera aí, rapaz. Por que me perguntou de onde veio o amor?
- Por que hoje ela disse pra mim “eu te amo”...  Acho que o amor surgiu dela, pai.

sábado, 6 de outubro de 2012

O Diário de Helena - Parte III


“Helena Maia Vanilha, aceita Rodrigo Dualibe Castro como seu legítimo esposo?”
Ah, padre, por favor, no próximo sonho comece logo da parte do “pode beijar a noiva”... Esse cirurgião ainda vai casar comigo!

O papo com a minha mãe ontem no telefone só podia dar nisso. Ela ligou pra minha casa perguntando onde eu estava. Acho que a maluquice é uma coisa de genética. Logo perguntei “ué, você ligou pro meu celular ou pra minha casa?”, e ela, mais rebelde que um adolescente na pior fase da rebeldia responde “eu é que vou saber pra qual número eu liguei, não me faça perguntas difíceis!”. Então eu respondi que estava em casa. Acho que foi a pior coisa que eu podia ter dito, tive que escutar uma ladainha altamente chata: “Helena, mas o que é que está havendo com você, minha filha? E os boys?”, para, para tudo!

A minha mãe me perguntou sobre os “boys”, como assim?

“Boys, mãe? Que boys?”, eu ainda não acreditava no que ela estava me dizendo.
“É, Helena, os boys, os bofes, os carinhas lindos, cheirosos e poderosos... vai me dizer que não está saindo com ninguém?”

Era demais ouvir minha mãe falando daquele jeito, mas tudo bem, eu ia descobrir o motivo.

“Não estou saindo com ninguém não...”

Ela suspirou ao telefone e eu pressenti que lá vinha um testamento pronto.

“Helena, você já tem 34 anos, meu bem. Vai ficar encalhada a vida inteira? Coloca uma roupa que valorize essa sua bunda maravilhosa que herdou de mim e esses peitões lindos que tem agora e vai à luta! Não é possível... você engordou, é isso? Porque olha, mesmo se for isso, não tem problema, a mamãe tá acima do peso, mas eu arrumei um boy tão lindo, jovem, descolado, um amor, estou pensando até em morar junto com ele!”

N-Ã-O   É   P-O-S-S-Í-V-E-L!

Eu parei, respirei, reproduzi tudo que ela tinha dito na minha cabeça de novo e lá fui eu tentar entender e ver se eu não tinha viajado: “Como é que é, mãe?”

“É Helena, você tá devagar, hein? Mamãe tá namorando, ele é um garotão, meu amor, 31 aninhos, surfa, malha, é empresário, arrumei um príncipe.”

PUTA QUE PARIL!

“31 anos??????????? Você pirou, mãe?”

“Não, meu amorzinho, eu só estou fazendo o que você não anda fazendo, pelo visto, né? Me divertindo, beijando na boca e claro, fazendo muito...” Lógico e óbvio que eu não queria escutar o resto e a interrompi.

“Tá bom, tá bom, já entendi, não precisa continuar. Você me ligou pra me contar que está namorando com um cara 30 anos mais novo e jogar na minha cara que eu estou encalhada, é isso?”

“É, filhota... precisa arrumar um boy pra sairmos juntos!”

“Sairmos juntos?”

“Ainda não te contei, mas eu vou com o Ricardinho aí te visitar! Mamãe chega em breve filhota, arruma a casa!”

Ricardinho? Me visitar? Namorando? É, deve ser o fim dos tempos pra mim!
...

Foi com essa linda novidade e com esse pensamento que fui dormir. E hoje acordei desse lindo sonho. Eu nunca te desejei tanto na vida, Dr. Rodrigo Dualibe Castro!
Agora vou afogar minhas tristezas num bolo de chocolate com um cappuccino, porque definitivamente é o que me resta.

Um beijo depressivo.

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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Diário de Helena - Parte II


Hahahahaha. Eu não encontrei uma forma melhor de começar a escrever que não fosse rindo. Porque, numa boa, está pra nascer uma mulher tão sortuda quanto eu.
Eu sou advogada. Pelo menos eu pretendi ser um dia. Quero dizer... eu sou, mesmo você se perguntando “como assim essa mulher é advogada?”, ah, não estou nem aí. O fato é que o meu chefe fez uma reunião hoje pra discutirmos sobre uns processos que nosso escritório está cuidando. Essa reunião levou três infindáveis horas. Ainda ouvi de um imbecil que não sei fazer um relatório perfeito. Júlio, meu querido, eu queria muito mandar você pra puta que o paril, porque pra pensar em colocar você no mundo, sua mãe só podia ser uma... enfim.

Saí da reunião pior que o bagaço da laranja espremida. Fui ao cinema. Pensei que comendo uma pipoca grande, tomando uma Coca com bastante gelo e depois adoçando a vida com M&M’s eu me sentiria melhor. O filme? Comédia romântica. Já que a vida tá uma piada, vamos assistir aquele filme que nos dá a história completa. A mocinha gosta do mocinho engraçado, eles ficam juntos, algo acontece, eles se separam e no fim do filme eles voltam a ficar juntos... nada melhor que isso, casais perfeitos, filme perfeito!

Lá fui eu. Sentei na última fileira. Na sala só tinha eu e mais 4 pessoas. Era a última sessão do dia, 23:15. Os trailers começaram. Eu devorei a pipoca e antes do filme ter 15 minutos de duração, ela já tinha acabado. Parti para os M&M’s. Uma coisa terrível aconteceu... quando abri o saquinho, desastrosamente e com lágrimas de muito sofrimento vi metade dos meus chocolatinhos voarem. Não sou tão desastrada assim, não sei o que aconteceu... comi o que me restava. Do meio para o fim do filme comecei a escutar um barulho estranho que vinha da cabine de onde o projetavam. Sou muito curiosa. Levantei e subi em cima da cadeira, com meu salto alto e ainda fazendo esforço para conseguir ver a parte de dentro da cabine. Me dependurei no encosto da cadeira e vi uma cena incrível. Um garoto e uma garota, namorada, sei lá, num amasso daqueles proibidos para menores de 21 anos. O casal me viu. Sabem onde eu fui parar depois?

Bom, boa noite. Acabei de chegar em casa desse dia, digamos que surreal. Hahahahahaha. Não podia terminar de escrever de um jeito que não fosse esse, rindo. Definitivamente uma ducha gostosa me espera. (Júlio, se um dia você ler isso, quero que saiba que... que... quero que você continue indo pra puta que o paril!). Até mais.

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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O diário de Helena - Parte I


“Eu não vou negar que sou louco por você, estou maluco pra te ver, eu não vou negar...”, parafraseando Zezé Di Camargo & Luciano a uma hora dessas da madrugada.
Eu não nego mesmo. Assim como não posso mentir que estou na maior das maiores fases bregas da minha vida. Malacabada, de maquiagem borrada e meia calça rasgada. Quem é que liga pra isso? Quem é que liga de verdade pra mim? Só o porteiro pra me avisar que o encanador vai subir, ou que o motoboy da pizzaria chegou.

Eu que achei que no auge dos meus 34 anos estaria arrasando num lindo apartamento, com aquele carinha maravilhoso, bonito e bom de cama. Além de engraçado e sutilmente sarcástico. Não é um príncipe encantado, vai. Eu não queria muito. Sim, queria, passado. Não quero mais. Cansei dessa busca incansável por uma vida perfeita, por construir uma família daquelas de comercial de margarina, tão falsa quanto meus peitos de silicone. Sim, até isso eu fiz pra ver se o tal do cara aparecia. Bem que eu queria que fosse meu cirurgião plástico. Que homem másculo, viril, superinteressante e irresistível. Gay. Que se dane. Somos capazes de viver sós, com exceção de gêmeos, tri, quadri e assim geminianamente por diante, nascemos sós, não é?

Eu acabei de derrubar uma lágrima. Eu me sinto a Bridget Jones num remake fodido. Porra, 34 anos, em casa sozinha numa noite de sexta-feira, tomando uma cerveja e escrevendo num blog... eu passei do estágio da decadência. Mas tá tudo bem, acreditem. Pior que isso é deixar a lista de reprodução de música automática do computador rolar e ouvir Zezé Di Camargo, Júlio Iglesias, Roberto Carlos, Ritchie, Maysa, entre outros que não preciso citar.

Você deve estar se perguntando por que eu não procuro uma terapia. Se não está, eu falo sobre isso numa boa. Eu sei que uma hora, se já não aconteceu, você me acharia louca. Mas eu sou normal. Bom, a terapia já foi um sonho de consumo pra mim. Me apaixonei pelo meu psicólogo na sexta sessão. Eu não me apaixono fácil não, é que ele era demasiadamente inteligente. Homens inteligentes além de sexys, me conquistam assim como um par de ingressos para uma partida de vôlei. Não que eu seja esportista e tudo o mais, é que adoro esse jogo.

Eis que dou meu último gole. A cerveja já estava quente, assim como essa madrugada. Não aguento mais o brilho dessa a tela. Minha vista cansou. Vou tirar a roupa e dormir como vim ao mundo. Fechando o laptop. Volto amanhã. (Pra quem será que eu falei isso? Ninguém quer saber da sua vida. Que coisa, Helena!)... zZZzz.

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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Folhetim


Não parece que foi ontem que nos conhecemos.
Mesmo com tão pouco tempo já sinto que estás na minha vida há anos.
Não somente esses dois, mais há uns dez.
Sinto o mesmo, na mesma proporção por saber que não podemos mais ser 1+1.
O problema não sou eu. Nem você. O problema é justamente esse: nem eu, nem você. Não tem 2. Tem 1 e 1.

Eu te sinto ir embora, voando como aquela folha seca que é levada pelo vento do outono.
Minhas mãos não alcançam. Meu coração aperta. Mas deixo que vá.
Voa folha, voa até seu lar. Voe tão longe quanto conseguir.
Segue a tua rota, a tua bússola, o teu vento guia.
Ficarei no inverno frio torcendo por tua primavera.
Que brotes, que cresças, que sejas leve e a tão bonita folha verde que conheci.

Já não és mais presa ao meu galho. Já não pertences mais ao meu abraço.
Já não és nem podes ser  meu trevo.
Semearei em outro jardim um outro amor digno de um novo folhetim.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Entrelinhas Vazias procura parceiros!

Alô, leitores, amigos e admiradores!
Todos bem? Espero que sim.
Vou tentar não me prolongar muito (eu disse tentar) e ir direto ao ponto!
Tem um continho aqui em  baixo que chama "Entrelinhas Vazias", certo?
Pois bem... passei um tempo aqui sem escrever, estava bolando umas coisas, me dedicando a alguns projetos, mas agora eu voltei com tudo!

Tanto, que vou abrir um espaço aqui pra você. Como assim?
Seguinte, o conto "Entrelinhas Vazias" está incompleto, se você leu, você percebeu, se não leu, leia e vai perceber!
O que eu quero? Quero que você que curte escrever, que gosta de literatura, ou que quer uma oportunidade de mostrar seu talento, enfim tenha uma chance.

Como vai ser isso?
Você vai me mandar a ideia pra continuação desse conto, eu vou retornar pra você dizendo que gostei e dando o aval pra você fazer a segunda parte. Depois de feita, você vai me mandar e eu vou postar aqui!

Como entrar em contato comigo?
Tem meus contatos aqui em cima na barrinha de menus, só olhar lá, estarei full time pra esse assunto.
Me procura pelo twitter ou pelo e-mail com o assunto: quero participar de "Entrelinhas Vazias" e manda ver na sua ideia!
A melhor vai entrar aqui!

Let's go!

Entrelinhas vazias



Acordei chateada hoje. Sonhei, aliás, tive um pesadelo altamente insuportável. Eu já via respaldos do meu ácido e péssimo humor nas pessoas. “Verena, você precisa de terapia!”, “Você está de TPM ou levou um pé na bunda? Que mau humor irritante!”. Assim começou o meu dia. De certa forma minha acidez estava estampada em mim, cego era quem não queria ver. Minha calça, verde limão. Minha blusa, laranja lima. Meu par de All Star, também verde limão. A alça da minha bolsa, pendurada em meu ombro esquerdo, era grande e de couro, atravessava meu peito e deixava a bolsa colada no lado direito do meu quadril. Dentro dela, um livro sobre a cena do rock britânico dos anos 70 e 80, meu óculos de sol, um bloco de folhas brancas com uma caneta azul presa em seus espirais, minha carteira e meu inseparável saquinho de jujubas vermelhas. As melhores!
Depois das milhões de patadas que dei em 20 minutos, ao encontrar amigos a caminho do metrô, entrei no vagão e imediatamente ouvi uma criança, inquieta, falar para a mãe: “mãe, vamos nos atrasar, olha, são 7 horas e 55 minutos, a tia Eliana vai brigar comigo”. Um frio na barriga tomou conta de mim. Perdi a noção da hora. Não podia mais me atrasar. A professora, digo, a ridícula professora que eu tenho disse que me daria falta se eu me atrasasse mais uma vez. Uma falta, contando com todas as outras que já tive em um mês e alguns dias, significaria repetir na matéria. Matéria essa que só era ministrada por ela. E não... eu não queria ter o sacrifício e o castigo de passar mais um semestre com ela.
A hora voava. Eu ia gradativamente me transformando em um desespero humano. Ao chegar na estação, corri tão rápido quanto um recordista olímpico de 100 metros livres. Cheguei na porta da sala esbaforida. Respirei e abri a porta. A sala parecia estar completa, e a professora... bom, ela estava mais atrasada do que eu.


Tive que sentar na segunda fileira da frente. Não podia ler nem ouvir música. Não sei por que, mas previa que a ridícula pegaria no meu pé.


“Bom dia, desculpem o atraso, tive um imprevisto, isso não vai se repetir. Vamos à tarefa que dei pra vocês aula passada. Quem se voluntaria pra começar?”. Ninguém se manifestou.  A tarefa era desenvolver um argumento para rebater outro argumento presente num artigo que ela passou pra turma, cujo tema era a homofobia. Eu não fiz. Por quê? Porque não gosto desse assunto. Não que eu seja homofóbica ou qualquer coisa do tipo, mas prefiro não falar sobre o assunto.
Levantei, na esperança de sair de sala para ela não me escolher. Meu ato foi traiçoeiro: “Verena, você pode nos contar seu argumento?”, todos voltaram suas atenções para mim. “Meu argumento, no momento, é que devemos respeitar quando nossa bexiga pede pra irmos ao banheiro porque ela tem sempre razão”. Caio, o garoto mais escroto da sala, ou da faculdade, eu diria, logo riu alto em tom de deboche.  A professora me olhou séria: “Ótimo, ela tem razão mesmo. Mas na volta você nos conta seu pensamento”. Tratei de sair e fiquei indecisa.
Ela, pela primeira vez na vida, não fez a chamada assim que chegou, então eu não podia pegar a bolsa e sair. Mas se eu voltasse, eu teria que falar sobre algo que eu não gosto. Voltei. Cheguei no meio da explicação de uma menina que durou um bom tempo.
A aula terminou e a professora fez a chamada. Não chamou meu nome. Todos saíram e só eu fiquei. “Você pulou o meu nome”. Ela me olhou: “Queria que ficasse aqui, vamos bater um papo rápido”. Eu peguei minha bolsa e fui em direção à porta: “Tenho oura aula agora”. Ela não se moveu. Bufei e me aproximei de onde ela estava sentada: “O que quer falar comigo? Não pode ser outra hora?”. Ela apontou para cadeira à sua frente: “Temos 10 minutos ainda, é o suficiente”. Sentei e a encarei. “Verena, eu sou tão ruim assim?”. Estranhei seu comportamento, mas não a respondi. “Já tentei de tudo para ter sua atenção. Sua fase de rebeldia ainda não passou, é isso?”. Respirei fundo e não respondi nada. “Você precisa mudar sua postura enquanto é tempo”. Peguei meu celular, vi as horas: “você tem 7 minutos”. Ela me deu presença, guardou suas coisas e levantou. Eu também levantei fui me aproximando da porta, levei minha mão até a maçaneta. Ela segurou meu braço: “Você podia ser menos difícil”. Abri a porta e saí.

...

Continuação enviada por Mário Rezende, do Blog "Dois pontos, reticências, etc"

        Quando cheguei no fim do corredor, ainda sentia o toque suave da sua mão no meu braço. Olhei para trás e vi que ela estava parada um pouco adiante da porta da sala em que estávamos, olhando em minha direção. Continuei andando até entrar no outro corredor, à esquerda. Depois de dar mais uns dez passos, a curiosidade me impeliu a voltar. Ainda deu tempo de vê-la, no final do corredor, caminhando com um livro abraçado junto ao peito. A roupa justa, colada ao corpo, revelava o seu  corpo esguio e bem feito. Naquele instante, uma colega passou por mim e falou:
    - A Mariana pegou no teu pé hein, Verena! Cuidado que ela está solteira.
    - Como assim?
    -  Vai dizer que você não sabe que ela é lésbica, ou bi... sei lá?
    - Não. Não sabia.
    Então é por isso que ela estava tão interessada em  minha opinião sobre homofobia... Será que ela está a fim de mim? – Pensei.
    - Ela namorava uma garota da faculdade de Psicologia, mas ouvi dizer que elas brigaram. Parece que a mina não aguentou uma cena de ciúmes que ela fez numa festa.
    - Eu hein! Tô fora! Valeu. Até amanhã.
Era só o que me faltava! Eu sem namorado, na maior fissura e pinta esse lance... 

...


Continuação enviada por Ariely Souza, do Blog "A melhor coisa"



Meu dia continuou, não menos pior. Não consegui tirar o que aquela menina tinha me falado. Depois de ouvir aquilo, minha cabeça havia se tornado uma confusão, já não sabia para onde eu tinha que ir. Meu amigo, Bruno, como sempre querendo me ver sorrindo, veio ate mim e fez uma piada sobre meu visual: “Amei a sua calça, essa cor te deixa muito sexy”. Minha vontade de mata-lo foi tudo que expressei na frase: “se mata!”. Ele me preguntou porque eu estava daquele jeito: “foi por causa da aula, do tema homofobia?”, “Hãn, como assim, o que eu tenho a ver com homofobia, só não gosto desse assunto, isso não é um motivo no qual eu deva me importar, o que isso muda na minha vida?”. Ele me olhou com uma das piores caras e perguntou: “Você é ...?”, “o que?”, “você sabe o que eu estou perguntado!”, “se eu soubesse não perguntaria o que.”, “não se faça de boba! Você é ou não, confia em mim sou seu amigo!”. Sai andando e o deixei falando sozinho. O que ele esta pensando de mim? E se eu for qual o problema, a vida é minha e eu faço o que eu quiser!

Mais uma aula, para ser pior a professora com a voz mais irritante do mundo. Esse sim era o meu dia, ela tinha tanta gente para ler o digníssimo texto, mas, se ela não pedisse a mim algo de muito ruim poderia acontecer com ela, já que o dia era meu! Pois bem, li o texto. Nada de tão diferente aconteceu naquela faculdade, tudo como sempre; ou não, eu não parei para prestar a atenção nos outros a minha volta.

Saindo da faculdade, logo no portão, é isso mesmo: vejo aquele ser novamente, senti vontade de voltar, ou passar correndo, ate em me esconder, mas resolvi enfrentar mesmo sem conseguir olhar para o rosto dela. Mariana veio andando em minha direção e eu fui ficando cada vez mais nervosa. Ela parou na minha frente e falou: “Pensou no que eu disse, Verena?”, “Oi?”, “Perguntei se você pensou no que eu disse.”, “Presto tanta atenção em você que te destinar alguns minutos da minha reflexão sobre a minha vida seria, de fato, algo inovador.”, “Acho que rever sua estupidez não é uma má ideia, menina.”, “Jura? Não, muito obrigado. Prefiro, ainda assim, não te dar atenção.”, “Acho que você deveria pedir "obrigada", no feminino e ir estudar o seu idioma, também.”, “Acho que você deveria não se meter na minha vida.”, “O que você tem contra mim?  O que foi que eu te fiz para você nem olhar em meus olhos?”, “Nada! Só não quero criar vínculos com a senhora.”, ”Pode me chamar de ‘você’!”. Eu me despedi e disse que estava com pressa, e ela disse: “Espera, eu preciso te contar uma coisa!”. Tudo parou naquele momento, eu gelei, tremi, suei, meu olhos se encheram de lagrimas; abaixei a cabeça e disse: “Por favor, eu não quero ouvir o que você tem a dizer, deixe para um outro momento, um dia que eu estiver ao menos afim de olhar para seu rosto.”. Pela expressão em seu rosto, percebi que ela não gostou do que eu disse. Eu não tenho nada contra homossexuais (ou bi, sei lá o que ela era), mas eu não via problemas nos relacionamentos de outrem. Quando "o lance" passava para a minha vida, eu ficava enojada.

Quando eu estava indo para estação, vem meu amigo Bruno e me pergunta: “O que houve entre você e a professora Mariana, vi que ela foi falar com você outra vez, me falaram que ela ‘curti’ mulheres. É verdade?”. “É, é verdade sim!”. “Então você e ela...?”. De novo ele com esse assunto, se eu não acordasse chateada hoje, e a professora Mariana não estivesse brigado com a namorada dela, ela não iria levar o tema sobre homofobia, eu não teria que levantar para sair da sala, ela não iria me escolher, eu não teria que dizer que devemos respeitar a nossa bexiga, Caio não iria rir, ela falaria o meu nome na chamada e não iriamos bater um papo, aquela menina não viria falar comigo sobre a Mariana ser lésbica ou bi. Se eu não acordasse chateada hoje, eu não mandaria o Bruno se matar, ele não perguntaria se o motivo foi o tema da aula e também não desconfiaria de mim. Não sei por que motivo a Mariana veio falar comigo de novo, se ela não viesse falar comigo, o Bruno não veria e não desconfiaria de nós duas, ou seja, não entraria nesse assunto outra vez e tudo por causa de um grande pesadelo altamente insuportável. “Não Bruno, não existe eu e ela. Está bem!”.



...


Continuação enviada por Mário Rezende, do Blog "Dois pontos, reticências, etc"


Estou justamente naquele período mensal que afeta a nós, mulheres, e eu, como sempre, fico daquele jeito, tendo que lidar com essa maldita TPM. Hoje, então, não é meu dia. Logo que levantei, com o pé esquerdo, lógico, tropecei no meu chinelo e dei um bico nele que quase saiu pela janela. Fui fazer xixi e só percebi que não tinha papel higiênico quando terminei. O recurso foi lavar com a duchinha em vez de enxugar. Mas a água estava tão fria que contraí até o útero, por alguns segundos acho que voltei a ser virgem. Logo hoje que vai ter um churrasco do pessoal da faculdade eu vou ficar com a minha personalidade influenciada pela ação dos hormônios? Nananinanão!, Vou ter que me superar pra me divertir como se estivesse tudo normal.
A Beth, uma colega da faculdade, aquela mesmo que me deu um toque sobre a Mariana - Caraca! Essa mulher me persegue. Por que eu tenho que falar nela!? – Passou lá em casa com o carro do pai dela. De ônibus, sem sacanagem, não ia dar para ir, porque a festa foi num condomínio de luxo lá em Vargem Grande, longe pacas.
Quando nós chegamos, a galera já estava lá há um tempão, Todo mundo de copo na mão e muitos já estavam bem animadinhos Eu tinha dado uma caprichada no visual pra tentar empurrar lá pro fundo da minha consciência os argumentos da TPM e notei que a recepção foi bem mais calorosa que o normal. Fiquei até sem graça com todo mundo olhando pra gente.
– Que que é isso, Verena!? Tá arrasando hein! – a Beth falou
– Nem vou sair de perto de você. Já vi que hoje vai rolar alguma coisa e eu vou ficar na tua aba.
Um carinha logo se aproximou me oferecendo bebida. Até que ele era bem interessante de corpo: barriga legal, quase tanque, malhado e tudo mais. Posso dizer que era gato, mas o, papo, puta merda, totalmente vazio. Deve pensar com a cabeça do pau. Pra sair fora dele fui ao banheiro e quando voltei fui direto para uma mesa onde estava o grupo da minha sala. Assim que sentei, dei de cara sabe com quem? Adivinhem... Ela, claro, a Mariana. Eu travei. Ela me olhando com aquele olhar de águia espreitando a presa. Pior que eu fico como uma presa mesmo. Eu não sei que poder ela tem, ou fraqueza que eu tenho, sei lá. Só sei que quando ela está perto tenho a impressão que me atrai como um imã que não me deixa escapulir. Ela tira o meu pé do chão, me descontrola.
 - Olá, Verena. Que bom que você veio. Estava começando a ficar entediada - Ela falou aproximando-se de mim. Vamos entrar na piscina.
- Não. Eu já bebi muito e estou meio tonta – menti.
- Olha a mentira! O narizinho vai crescer. Você chegou não tem nem meia hora.
- Acho que me deram uma bomba pra beber. Estou me sentindo meio enjoada.
- Então vamos ficar conversando numa espreguiçadeira.
- Sobre homofobia? O seu assunto preferido?
- Não, sobre você. Eu quero te conhecer melhor. Você é uma incógnita.
- Você tem namorado?
- Tenho um caso, sim – tive uma ideia.
- Mas ele não veio contigo. Todos que estão namorando ou ficando trouxeram os respectivos, mas você veio com aquela menina. Como é mesmo o nome dela...
- Beth. A minha namorada – falei de propósito pra ver a reação dela.
- Verena, qual é? Eu sei que você não namora a sua colega. Corta essa!
- É mentira mesmo. O meu namorado não gosta de se misturar com o pessoal da faculdade. Ele nem queria que eu viesse. Até brigamos por causa disso.
- Eu também acabei o meu relacionamento.
- Eu sei.
- Sabe como?
- Me contaram.
- Como assim te contaram? Você andou perguntando sobre mim a quem?
- A ninguém. Eu fiquei sabendo naquele dia que você fez aquela palhaçada comigo na sala. Todo mundo riu e o babaca do Caio ficou debochando. Falaram que você tinha terminado o namoro e que estava a fim de mim, por isso estava implicado comigo.
Quando eu estava falando, percebi que ela ficou meio sem graça e levantou os olhos. Adivinhem que estava bem atrás de mim...  Ele mesmo, o babaca do Caio em pessoa.
- Falando em mim, as minhas professora e coleguinha preferidas?!
Era só o que me faltava! Ainda tive que aturar aquele garoto idiota.
- Ah, Caio, vai procurar a tua turma e me deixa em paz – eu falei.
A Mariana ficou calada e nem olhou para a cara dele. Os olhos dela estavam fixos nos meus, penetrantes. Eu fiquei meio que paralisada. Será que ela tem o poder de hipnotizar? Não acho que foi por causa das bebidas que eu tinha tomado. Senti uma sensação estranha passeando pelo meu corpo, até lá em baixo.
- Você viu o que provocou naquele dia? Fiquei boladona e agora fico ouvindo piadinhas.
- Perdoe-me por ter feito aquilo na sala de aula. Acho que foi por instinto.
- Instinto?!
- É. Depois eu te explico.
Ela se levantou e disse que ia pegar bebida pra gente, passando, de leve, a mão de fada no meu ombro. Quando voltou, estava com uma garrafa de champagne e disse que era só para nós duas. Estava uma delícia, no final estávamos bebendo pelo gargalo. De repente todo mundo começou a mergulhar na piscina. O Bruno empurrou a gente e caímos as duas juntas – o cara é vacilão mesmo, caraça! Eu fiquei enjoada, disse que ia sair e fui caminhando para a escadinha. Ela me acompanhou e não é que a safada aproveitou para botar a mão na minha bunda quando me apoiou para subir!
Depois o pessoal começou uma guerra de jatos de champagne e eu literalmente tomei um banho. Fiquei com o corpo todo melado e estava ficando agoniada. Então eu falei para a Beth -, aquela que me bateu o lance da Mariana – que eu ia tomar uma ducha no banheiro.
“Mas você não está tonta e enjoada? Eu não vou deixar você ir sozinha”. A Mariana falou e foi comigo.
Eu abri o chuveiro e deixei a água cair no meu rosto. Estava gelada demais, quase desisti, mas entrei de vez.
- Posso entrar contigo? - Ela perguntou.
 Eu não respondi, mas cheguei um pouquinho para o lado e ela entrou embaixo do jato d’água.
- Ai! Está muito fria – ela falou  tremendo.
- Fria é apelido, está gelada – eu falei com a voz tremendo e esfregando os braços,
- Você melhorou?
- Acho que sim.
- Você não está acostumada a beber, não é?
- Não. Só bebo cerveja, assim mesmo pouco. Mas eu vim tomar banho porque fiquei toda melada de champagne e estava me dando nervoso – eu falei enquanto afastava o biquíni do corpo um pouquinho para poder lavar os seios e a parte de baixo também.
- Eu também estou toda meladinha. Vou lavar o biquíni.
Ela falou meladinha com sentido dúbio ou foi impressão minha?
Tirou a parte de cima e deixou à mostra um par de seios lindos, nem grandes nem pequenos e com os biquinhos parecendo de adolescente. “Deve ser por causa da água gelada” – pensei. Depois, sem cerimônia, tirou a parte de baixo para lavar também. As pessoas que se exibem assim sabem que têm o corpo bonito. O dela é espetacular.
- Você não vai lavar o seu?
Eu virei de costas e tirei o biquíni. Lavei depressa e vesti logo a parte de baixo porque estava com vergonha. Eu nem a conheço direito, além disso, é minha professora. Fiquei toda atrapalhada para amarrar o sutiã.
- Deixa eu te ajudar, Verena. Você está nervosa? Pode deixar que eu não mordo.
Ela amarrou o meu biquíni, mas percebi que ficou muito tempo com as mãos nas minhas costas, mas por incrível que pareça eu não me incomodei.
- Eu imaginava que você tivesse o corpo bonito, mas é muito mais. Você é um tesão, sabia? – Disse passando a mão no meu rosto e um dedo demorou escorregando por toda a extensão do meu lábio inferior.
- Eu não sei o que está acontecendo comigo...
- Mas eu sei.
Ela levantou os meus braços e encostou, me encostou na parede e colou o corpo ao meu. Eu ainda estava meio tonta e não fiz nada.
- Eu sei o que está acontecendo contigo e estou muito feliz.
Ela falou com o rosto bem perto do meu e eu percebi que ela ia me beijar, pior que eu não resisti. Fiquei olhando para a sua boca, é muito sensual. Quando ela ia encostando a boca na minha eu fechei os olhos – não estava acreditando que eu ia deixar, meu ego deveria estar bêbado. Naquele momento entrou alguém no banheiro.
- Verena, você está aí? Está se sentindo mal? – A Beth perguntou.


...

- Verena? Verena?
Fui abrindo os olhos devagarzinho e vi Mariana. Dei um pulo, assustada. Olhei ao redor e vi que estava com Mariana na espreguiçadeira, e o pessoal na piscina, tudo aparentemente normal. Levei as mãos ao meu rosto e as percorri até meus ombros. 
- Você está bem, Verena? - Mariana me perguntou.
Respondi fazendo gesto positivo com a cabeça.
- O que foi que aconteceu? - Indaguei Mariana.
- Nós bebemos o champagne, o Beto veio falar que a Daniela tava passando mal, fui lá cuidar dela, você adormeceu. Teve pesadelo?
Eu demorei pra responder, fiquei pensando bem.
- Foi isso mesmo que aconteceu? - Eu a indaguei mais uma vez.
- Foi, por que eu mentiria? Acho que você bebeu demais. - Ela disse sem entender minha pergunta.
Sentei na espreguiçadeira e fiquei pensando no sonho que eu tive, quanto mais pensava, mais meu coração pulsava.
- No que tanto você pensa? - Disse Mariana chegando a espreguiçadeira dela pra perto e mim.
- Tô aqui pensando na Daniela, ela tá bem? - Menti.
- Tá sim, misturou caipvodka com cerveja, não tava comendo e aí passou mal, mas ela já tá bem. Tem certeza que tá pensando nisso?
Não sei de onde me saiu coragem, mas resolvi encarar a fera.
- Mariana, me responde com toda sinceridade que existe em você. Eu atraio você? Você é a fim de mim? - Eu perguntei séria, olhando nos olhos dela.
- Por que essa pergunta assim, agora, Verena? - Ela retrucou.
- Só me responde. Não é difícil. 
Ela me olhou bem e respirou fundo.
- Você é um ponto de interrogação pra mim, é marrenta, respondona, além de linda e muito inteligente. Esse conjunto de fatores me atrai, até porque a minha ex namorada é exatamente assim. Mas isso não quer dizer que eu esteja a fim de você, é só uma atração. Você é aluna e eu professora.
Eu a ouvi cuidadosamente.
- Acabei de ter um sonho com nós duas. - Eu disse.
- E o que sonhou? 
- Que a sua atração se transformou em desejo real e rolou...
Ela ficou quieta e não disse mais nada.
- Mariana, eu ando muito confusa, eu não sei, não sei o que tá acontecendo comigo. As pessoas ficam me zoando, ficam falando de você o tempo todo, acaba que eu fico pensando nisso o tempo todo e... E sei lá, olha o que eu sonhei!
Mariana pegou minha mão e me levou para um canto longe de onde as pessoas estavam. Me encostou na parede e se aproximou de mim, até chegar muito perto da minha boca.
- O que você está fazendo? Não quero isso, deixa eu sair. - Implorei.
Ela me segurava com força, eu não conseguia sair.
- Mariana, para, por favor!
Ela me olhou nos olhos e acariciou meu rosto. Foi até meu ouvido e sussurrou.
- Você tem que aceitar os fatos. Tem que aceitar quem você é. Precisa entender que você é isso mesmo e que não tem que se importar com o que as pessoas vão pensar de você.
Ela voltou a me olhar e disse bem perto da minha boca.
- O dia que você aceitar a condição e o fato de se interessar por outra mulher, você vai ser muito mais feliz, menos rebelde e estúpida. Enquanto isso, sou apenas e somente a sua professora. Porque no fundo eu sei que você me quer tanto quanto eu te quero. Mas isso nunca vai dar certo.
Ela me soltou e saiu andando. Eu fiquei ali no mesmo lugar parada, vendo ela ir embora, se distanciando. Mesmo sabendo que era verdade tudo que ela disse, eu não podia aceitar. Eu não posso. Mesmo sendo perdidamente apaixonada por ela...

...

É isso, galera! Mário e Ariely, obrigada pela participação de vocês aqui! Quis encerrar a história levando pra um lado que anda acontecendo muito ultimamente: relacionamento homoafetivo e não aceitação. Espero que tenham curtido, gostaria de deixar claro que não sou homofóbica e preconceituosa, apenas retratei uma situação que acontece aos montes!

sábado, 30 de junho de 2012

O primeiro


O primeiro a vir ao mundo
O primeiro segundo
O primeiro choro
O primeiro sorriso
O primeiro bocejo
O primeiro sabor
O primeiro dente
O primeiro som
O primeiro medo
O primeiro passo
O primeiro questionamento
O primeiro tombo
O primeiro amigo
O primeiro segredo
O primeiro ídolo
O primeiro desgosto
O primeiro sonho
O primeiro obstáculo
O primeiro amor
O primeiro fracasso
O primeiro achismo
O primeiro ideal
O primeiro porre
O primeiro prazer
O primeiro acaso
O primeiro caminho duplo
O primeiro passo certo
O primeiro emprego
O primeiro casamento
O primeiro filho
O primeiro traço da velhice
O primeiro adeus ao primeiro

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eu voei

Eu voei
Eu voei junto àquele pássaro de penas verdes brilhosas que deu rasante em minha janela
Planei como um beija-flor doce e manso
Voei em céus que só eram diferentes no azul
Planei frente à flores como as do Éden
Voei sem rumo mesmo buscando teu caminho
Planei em busca de água, com sede, vazio e sozinho
Eu voei livre, cheio de vida e esperança
Eu voei o mais alto que pude
Fui lá em cima, nas nuvens
Naquele branco condensado digno de sonhos
Voei até pensar me cansar
Mas não cansei de voar
Eu voei pra chegar a algum lugar
Eu voei querendo te encontrar
Sumi naqueles céus que nem Zeus pôde me capturar
E tudo isso pra te ver
E tudo isso pra tentar te ter
Minhas asas se cansaram
Então eu precisei aterrissar
Pousei calmamente, ainda no alto
Ainda naquela copa de macieira do pecado
E uma serpente me ofereceu aquele vermelho alimento adocicado

Eduacamente eu agradeci e o recusei
Pousei
Desta vez em solo firme
Respirando um ar menos rarefeito
Mais propício pro meu peito
E logo tomei forças pra continuar e decolar
Mesmo não sabendo onde está
Eu não desisto de voar
A minha meta é te encontrar
Seja em qual for o lugar

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Relatos da introspecção

- Eu não quero! - Disse a Razão.
- Mentirosa, quer sim. Eu sei. - Disse a Emoção.
- Eu estou amando, mas prevejo que vão me trucidar. - Disse o Coração.
- Vou me machucar, vou me machucar, vou me machucar! - Disse o Sistema Nervoso.
- Posso participar da conversa? - Questionou o Cérebro.
- Sim! - Em coro, todos responderam.
- Então, eu concordo com a Emoção, senhorita Razão.
Também concordo com o Sistema Nervoso. - Disse o Cérebro.
- Por que você tem esse ar, tão... tão dono da verdade? - Perguntou o Coração.
- Cala a boca. Você não sabe de nada. - Respondeu a Razão.
- Não dá pra dialogar com vocês, ninguém tem neurônios. Só eu mesmo. - Disse o Cérebro, saindo da conversa.
- Na verdade eu não amo não, por isso não vou me machucar. Sistema Nervoso, acho melhor nos retirarmos da conversa também. - Disse o Coração.
- Não vão não. - Disse a Emoção.
- O que a gente faz? - Indagou o Coração.
- Vamos arrumar uma solução. - Disse a Razão.
- Vocês todos estão errados! - Gritou a Mentira chegando na conversa.
- Escutei meu nome de longe... Aqui não tem espaço pra você, Mentira. - Retrucou a Verdade, chegando do lado oposto.
- Chega. Chega. Vamos parar com isso. Eu já sei o que fazer e não preciso de nenhum
de vocês comigo, exceto o Coração. Portanto, podem se retirar. - Disse a Razão.

Após muitos borburinhos, o pedido da Razão foi aceito.
- Coração, acho que essa sua amizade com a Emoção vai de mal a pior. Vai por mim. - Disse a Razão.
- Se eu me separar da Emoção, minha vida perde o sentido. - Disse o Coração.
- Não perde não, eu existo. - Disse a Razão.
- Vamos nos unir? - Sugeriu a Razão.
- E se não der certo e eu me machucar? - Respondeu o Coração, cabisbaixo.
- Vai dar certo. Somos a parceria que todos queriam ter. Juntos vamos nos equilibrar e poder viver de forma mais feliz. - Disse a Razão.
- Podemos formar um trio imbatível. - Sussurrou a Verdade se aproximando.
- Só preciso do seu aval. - Disse a Razão para o Coração.

sábado, 12 de maio de 2012

O medo, a perda

Perdi as estribeiras do poder.
Sentei-me à beira mar para observar além do horizonte.
Além da linha que divide o céu do mar.
Quando eu achava que as ondas tinham desaparecido, lá estavam elas: voltando, indo e voltando novamente.
Em pouco tempo um céu acinzentado encobria o azul que tanto me atraía.
Nuvens carregadas chegavam, perfeitamente armadas para despejar um céu de gotas. Perdi o direito de ficar ali contemplando o que minha mente via através do meu olhar.

Já ensopado, abri a porta, joguei a chave na mesa e me atirei no sofá.
- Pluft! Plaft! - Arremassava meu tênis.
Brincando de fazer contas, só hoje eu perdi o ônibus para o trabalho, o horário de visitas no hospital onde minha única avó está, o ingresso (já esgotado) do último dia da peça que encerra a temporada, o celular, o azul do céu e o horizonte.

Posso contar nos dedos. Mas se for contar a partir de semanas, meses, vou precisar de um diário de perdas.
Não me dou bem com elas. E elas, muito menos comigo.
Perder um ônibus pode ser perder uma oportunidade qualquer, das boas às parcialmente boas. O horário de visitas podia ser o último com a minha avó viva. O último dia de peça podia me reservar algo. O celular... Podia ter sido alguém precisando de mim. O azul do céu poderia ser o ganho da consciência limpa, tranquila e calma. E o horizonte, o plano paralelo ao infinito, ao ser, ao estar, ao sonhar em proporções extensas.

Mas eu os perdi. Perdi a paciêcia com o ônibus e com a recepcionista que me impediu de visitar a Dona Lourdes. Perdi minha carteira quando a joguei pela janela depois de perceber que meu ingresso não estava lá. Não imaginava que perderia meu celular ao sair de casa, em menos de 5 minutos, para procurar a carteira. Prefiro perder a chance de dar continuidade ao resto...

Eu sou um perdedor daqueles típicos.
A minha vida é perder, inclusive, já nasci perdendo a vida e, meu relógio tem bons ponteiros que marcam minha sentença a cada tic-e-tac.
É só perder e perder e perder.
Quando é que vou perder o poder de perder?

Mas tá tudo bem. Nem tão bem assim.
Mesmo perdendo a cada instante, uma coisa não se afasta de mim. Eu não a deixo escapar. Não, eu não posso.
Me baseio no ditado "se não pode contra ele, junte-se a ele".
Não perco a esperança de um dia perder o medo de perder.

domingo, 22 de abril de 2012

Não te pertencia

- Juliano, para ali naquela esquina. - Assim ele o fez.
- Seu carro faz muito barulho. Já viu isso? Ele não é novo?
- É, acho que é a descarga que está solta. Vou ver isso amanhã. - Ele disse estacionando o carro.

Ficamos ali conversando um bom tempo. Nos mantinhamos parados e o assunto parecia não se esgotar. Aquela vaga parecia enorme perto daquele carro pequeno. Sem contar a pouca luz do lugar, que o deixava propício para deslizes. Recostei minha cabeça no apoio do banco e só ouvia Juliano falar. Fomos pegos por um silencio de um minuto, que mais parecia de meia hora.
Quando vi, Juliano vinha me engolir. Não que eu não tivesse reflexo o suficiente e olhos bons pra enxergar ele se aproximando de supetão. Mas algo em mim permitiu que nossos lábios se tocassem e que nossas línguas se enroscassem.
Talvez carência. Ou simples preguiça de reagir.

E foi...
Durou muitos minutos. Mas só alguns pra que eu me rendesse ao desejo de levar adiante aquele beijo.
Não porque era Juliano que estava me beijando, mas porque aquela boca não era a dele. Não, não era, não podia ser.
Minha cabeça dizia que não era. Na verdade ela não negava, ela pensava em outra pessoa.
Era a boca dessa que eu beijava. E por isso me permiti. E por isso me rendi.
Até, pelo menos, abrir os olhos e me deparar com a realidade da qual ainda não tinha me defrontado.

Foi como aquela chuva no momento errado. Como um balde de água fria, como dizem por aí.
Mas não me arrependo. Não... mesmo porque Juliano não tinha nada a ver com isso. Mesmo porque foi a primeira vez que isso aconteceu entre nós. Ele não sabia. Não podia saber.
Mas eu sabia, sempre soube e por algum tempo ainda vou continuar sabendo que beijar qualquer boca vai me fazer sentir seu gosto. Que isso por breve instante me deixará perto de você.

E que isso um dia, pode me levar a saída que tanto busco.
Porque prefiro não mais me ater a você e experimentar bocas diversas que me ajudarão a não lembrar da tua.
Essa boca que não te pertencia me mostrou o que eu não queria: que ainda me mantenho na esperança de provar do teu gosto.