sábado, 12 de maio de 2012

O medo, a perda

Perdi as estribeiras do poder.
Sentei-me à beira mar para observar além do horizonte.
Além da linha que divide o céu do mar.
Quando eu achava que as ondas tinham desaparecido, lá estavam elas: voltando, indo e voltando novamente.
Em pouco tempo um céu acinzentado encobria o azul que tanto me atraía.
Nuvens carregadas chegavam, perfeitamente armadas para despejar um céu de gotas. Perdi o direito de ficar ali contemplando o que minha mente via através do meu olhar.

Já ensopado, abri a porta, joguei a chave na mesa e me atirei no sofá.
- Pluft! Plaft! - Arremassava meu tênis.
Brincando de fazer contas, só hoje eu perdi o ônibus para o trabalho, o horário de visitas no hospital onde minha única avó está, o ingresso (já esgotado) do último dia da peça que encerra a temporada, o celular, o azul do céu e o horizonte.

Posso contar nos dedos. Mas se for contar a partir de semanas, meses, vou precisar de um diário de perdas.
Não me dou bem com elas. E elas, muito menos comigo.
Perder um ônibus pode ser perder uma oportunidade qualquer, das boas às parcialmente boas. O horário de visitas podia ser o último com a minha avó viva. O último dia de peça podia me reservar algo. O celular... Podia ter sido alguém precisando de mim. O azul do céu poderia ser o ganho da consciência limpa, tranquila e calma. E o horizonte, o plano paralelo ao infinito, ao ser, ao estar, ao sonhar em proporções extensas.

Mas eu os perdi. Perdi a paciêcia com o ônibus e com a recepcionista que me impediu de visitar a Dona Lourdes. Perdi minha carteira quando a joguei pela janela depois de perceber que meu ingresso não estava lá. Não imaginava que perderia meu celular ao sair de casa, em menos de 5 minutos, para procurar a carteira. Prefiro perder a chance de dar continuidade ao resto...

Eu sou um perdedor daqueles típicos.
A minha vida é perder, inclusive, já nasci perdendo a vida e, meu relógio tem bons ponteiros que marcam minha sentença a cada tic-e-tac.
É só perder e perder e perder.
Quando é que vou perder o poder de perder?

Mas tá tudo bem. Nem tão bem assim.
Mesmo perdendo a cada instante, uma coisa não se afasta de mim. Eu não a deixo escapar. Não, eu não posso.
Me baseio no ditado "se não pode contra ele, junte-se a ele".
Não perco a esperança de um dia perder o medo de perder.

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