domingo, 11 de agosto de 2013

Eu estive fora uns tempos

Eu estive fora uns tempos. Fora de mim, dos meus pensamentos.
Viajei pra lugares novos, vi novas paisagens e conheci novos sentimentos. Apreciei falsas verdades em momentos de tormento. Recalculei a rota do caminho e prossegui na direção do vento. Gozei de partidas, despedidas e chegadas. Aumentei minha esperança no frio da neve e em longas geadas. Segui passos já dados e não me perdoei. Fui parar no deserto e vi de perto a incerteza: visões insanas criadas pela natureza. Cuidei de menos de quem cuidou demais de mim. Namorei poucos rios, poucos mares, poucas sereias. Encontrei na luz dos olhos de quem me levou o aroma do perfume que não me sobrou. Eu estive fora uns tempos. Fora de mim, dos meus pensamentos.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ainda bem




Ainda bem que a gente se encontrou
Que o tempo não parou
Que o inverno chegou
Que você me esquentou

Ainda bem que o café, agora é doce
Que a vida trouxe
Um sonho guloso
Um biscoito da sorte

Ainda bem que anjos existem
Que você não caiu do céu
Que meu colo pode te abrigar
Que meus braços possam te acalentar

Ainda bem que seus olhos combinam com os meus
Que nosso caminho se cruzou
Que seu dedo me cutucou
Esperançosamente

Ainda bem que meu Lírio brotou
Que meu jardim esverdeou
Que tenho sua pureza
E que regarei nosso amor eterno

Ainda bem, Anjo Lírio
Que me tocou
Como toco as cordas de um violão
Com a graça de um sertanejo
Que espera um milagre no sertão:
Que chova e o verde brote do chão.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Céu do mato

O céu do mato verde é azul
O céu do mato escuro é preto
Na noite vestido de negro
Brilhantes pincelam pontos
Delineadamente perfeitos
Em sua extensão imensa
E brilha luz sem fim
Nos olhos claros, escuros
A fim de glamourizar o momento
E brilha uma bola amarela
Às vezes branca e singela
Protegida por um guerreiro em seu cavalo
 

O céu do mato que fascina
Todas as noites da menina
Que vive de suas cores
Que vive de suas nuvens
Que vive de suas constelações
Que não tem limites
Se não quiseres, não acredites
Ela ama com fervor
Todas as noites, por favor
Céu do mato, apareça
Todas as noites enriqueça
A vida tão burlesca
De uma princesa ainda tão pitoresca

domingo, 28 de abril de 2013

Entrevista com o diabo

- Então, senhorita Valentina, podemos dar início a nossa entrevista?

- O quanto mais rápido, melhor.

- Andei pesquisando sobre sua vida e vi que você escreve há muito tempo. Como foi esse começo pra você?

- Olha, meu caro, se pesquisou sobre mim e não encontrou resposta pra essa pergunta, acredito que tenha pesquisado muito mal, pois já a respondi milhões de vezes a milhões de repórteres mais engajados que você, eu diria. Procure mais uma vez e vai achar.

- Desculpe-me, senhorita, eu apenas estou fazendo o meu trab...

- Por que me chama de senhorita?

- É uma forma de manter um determinado respeito e formalidade. Posso chama-la de Valentina somente se preferir.

- O meu nome é Valentina, se pesquisou bem, não tenho um primeiro nome cujo se chama ‘senhorita’.

- Desculpe-me mais uma vez, Valentina. Dando prosseguimento, queria saber como é o seu processo de criação, como se inspira e se usa algum método.

- Mais uma vez vi que não pesquisou direito, quiçá absolutamente nada. Meu bem, numa próxima vá fundo. Eu ainda sou muito paciente com vocês.

- Mas Valentina, é apenas o meu trabalho, preciso da resposta para essas perguntas feitas por mim, não posso simplesmente copiar e colar o que outro colega já fez.

- Problema é seu, garoto. Fizesse perguntas mais criativas e originais. Acho que nossa entrevista já acabou. Ronaldo, meu cigarro e meu licor, esse blábláblá me deu dor de cabeça.

- Valentina, não posso entregar a meu chefe as perguntas em branco, muito menos publicar que você é uma escritora altamente grossa e estúpida.

- Acho que estamos começando a querer caminhar, garoto. Conseguiu descobrir que sou grossa e estúpida e me falou. Normalmente seus colegas não falam isso. Está de parabéns por essa iniciativa. Vá, leve essa impressão sobre mim e publique na revista a qual trabalha. Não me importo.

Ronaldo chega com um cigarro, o acende e serve a Valentina licor que pediu.

- Valentina, está abrindo brechas para que eu escreva o que eu quiser a respeito das impressões que tive e isso pode não ser bom para a sua imagem.

- Quem liga para imagem é modelo, ator, atriz, artista. Não sou nada disso. Não quero saber o que pensam sobre mim, o que publicam, o que não gostam. Eu quero viver da minha arte sem ter que ser quem a mídia quer que eu seja. Sem que vocês, repórteres, queiram ou desejam que eu seja numa entrevista reveladora ou apenas em mais uma igual a outras. Eu sou isso aqui, apenas isso. Um cigarro aceso, um bom licor e um turbilhão de verdades e grosserias.

- Você é mais que isso, não acha que sua arte lhe faça alguém melhor, Valentina?

- Minha arte não faz nada de mim a não ser o que eu deseje no momento. Não é a arte que faz ou deixa de fazer qualquer coisa em minha vida. Eu a levo para o caminho o qual ache melhor. E esse melhor pode não ser o que é o melhor aos olhos de qualquer outro ser humano normal.

- Você não se acha normal?

- Sou normal, sou um ser humano como você. Apenas sou quem sou sem medir qualquer consequência de meus atos e de minhas palavras. Sou quem eu quero ser, no momento que desejo. Posso ser um de meus personagens ou uma de minhas poesias. Posso ser o diabo se eu quiser.

- E nesse momento, o que és?

- O próprio.

domingo, 21 de abril de 2013

Predador

É impressionante o poder que tem sobre mim, sobre meus sentimentos e sobre meus passos. É tão fantástico e irritante, ao mesmo tempo, que me fascina e me pune. Eu me entrego. Eu me dou. Eu caio em seus braços como uma presa fácil. E fico presa. Apenas porque me prendo. Pelo simples fato de consciente ou inconscientemente desejar que me prendesse. Mesmo já tendo me prendido, mesmo eu já sabendo a dor que seu repúdio me traz. 

Eu vou. Vou seguindo nos dias como um bêbado sem rota. Como uma bússola quebrada. Como um filme de terror que não termina. Não sei aonde ir, não sei o que fazer, não sei o que sentir, muito menos como evitar sofrer. Mesmo assim me arrisco ao poder de suas garras afiadas e tentadoras, como fiz de novo. Achei que tivesse aprendido como te dominar e como me dominar. Mas eu sou um poço de falsa esperança.

Machuquei-me outra vez. Machucaste-me outra vez. Não sei se pior que da primeira, mas tão intenso quanto. E eu que achei que o meu amor tivesse morrido comprovei da mais impetuosa ressurreição. E eu que achei que meu amor tivesse adormecido, comprovei do maior despertar de uma nova ilusão. Deixei-me levar na expectativa de te levar na crista da onda dessa alta maré. Como um surfista inexperiente, caí e me afoguei em lágrimas salgadas, secas e fartas.

Pois fique aí admirando meu naufrago. Aviste minha morte lenta e meu sofrer sem penar. Construa uma vida nova e me deixe seguir pra outro mundo. Capture uma nova vítima para seus encantos. Seu beijo eu não quero mais, seu abraço já não me traz paz e seu sorriso eu já não avisto mais. Bata suas asas e voe, voe pra bem longe daqui. Vá para um horizonte que meus olhos não possam enxergar.

Sejas doce para outrem, sejas meu passado. Ah, dor, como você me castiga! Como você me mastiga, me tritura e me amargura. Eu jurei não te encontrar de novo, sua puta! Largue meu peito de uma vez. Eu só tenho vinte e três.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Dúbio


Não
Não finja que esqueceu
Que o amor da sua vida sou eu
E que o tempo não apagou

O nosso amor
Ah, o nosso amor
Diga-me o que restou
As migalhas, o que sobrou?

Os dias nublados
O café gelado
A comida sem gosto
Em todo canto o seu rosto

Diga que se lembra
Diga que deseja
O abraço exagerado
O beijo demorado

Não esqueça o que eu dei
Eu sei
Que aí também pulsa um fogaréu
Que desenha nosso céu

Quando nossos olhos se cruzam
E nossos lábios se tocam
O mundo volta a girar em ritmo lento
Posso tocar o vento

Resistir a esse tormento
Um tanto quanto amargo
Te ver partir sem saber de nós
Nenhum instante me convence
Que o seu amor novamente me pertence.

domingo, 14 de abril de 2013

Tic-tac

Tic-tac
Tic-tac

Passa o tempo
Passa o dia
Passa a hora
Passa o trem
Passa boi
Passa boiada
Passa a vida em disparada


Tic-tac
Tica-tac
Os ponteiros vão rodando
O sol está nascendo
O sol está se pondo

Toc-toc
Toc-toc
Na porta estão batendo
O meu cabelo vai caindo
A minha barba está sumindo

Passa o tempo
Passa o dia
Passa a hora
Passa o trem
Passa boi
Passa boiada
Passa a vida em disparada

quarta-feira, 27 de março de 2013

A mar é

Amar é
A maré
Na onda de quem quer
Um sujeito pescador 

Predador de peixe-amor
Com anzol de cor, ação!
Pescou o coração
De uma sereia
Que amortece
O que o meu amor tece
Nesse barco vira-virou
Com amor 
Que a maré disse
O que amar é.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Duos

Foi quando meus olhos encontraram os seus
Que deixei no passado as lágrimas secas
Que aquele outro fez cair
Tropecei nas palavras diante de tua beleza
Que tamanha me fez diminuir
E já amei a nossa história
Sem sequer saber se iria existir
Porque de tanto me fascinares
Atravessei os sete mares
Num piscar de olhos contentes
Ardentes e carentes de aventura
Deixei-me levar
Como uma folha carregada pelo vento
Fui voando
Voando em pensamento
Esperando sem pressa
O tempo em que seremos
Dois.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Minhas sinceras desculpas

Desculpa.
Desculpa se não posso dizer que te amo e gostar de você livremente. Perdoe-me desse amor tão inocente que fez de mim um ser tão melhor. Desculpa se o muito que te dou não serve, se vida se atreve a não nos permitir. Perdoe-me desse longo cansaço de conversas vazias, por vezes tardias. Desculpa a minha falta de jeito que agoniza meu peito numa cólera invisível.

Perdoe-me os versos sem rimas, as flores murchas e o vinho de mesa. A minha pobreza e a minha franqueza. Desculpa todo esse amor sem medida, sem data pré-definida pra acabar. Perdoe-me, amor, perdoe-me, por favor, os olhos inchados, o soluço incansável e a tentativa inacabável.

Desculpa o tormento e a voz seca. O pulsar do coração acelerado mesmo não estando ao seu lado. Perdoe-me todas as vezes que te tive em sonho, em pensamento e imaginação. Todas as mensagens e aquela ligação. Desculpa não conseguir te esquecer, não querer te perder e todo o meu sofrer. Perdoe-me por não te entender, sem saber realmente quem é você.

Desculpa, perdoe-me, absolva-me de minha culpa. Ternamente, dia após dia, irei tirar-lhe o direito de habitar em minha imensidão. Sem choro nem vela, enterrarei o caixão. De luto não. Acabou a fase da paixão e fica aqui minha gratidão por ter sido a minha maior decepção.

Desculpa o meu amor, ele não tem culpa.
Perdoe a minha inocência, ela ainda vive a adolescência.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Processo Criador

Um caderno vazio e um monte de ideias
Um corpo arredio marcado por guerras
Linhas vazias, o branco, o nada
A mente agitada, calada, cansada
Um caderno vazio inspirador
Um poema sombrio
Um conto de fadas
Na ponta da caneta esferográfica
A tinta fantástica
Há de contornar belas e suaves letras
Compondo e transpondo o que se cala
O que não se vê descaradamente
Um caderno vazio e um monte de ideias
Prontas para tomarem conta de um lugar adequado
Escritas num papel perfeito
Em tons de preto, azul ou vermelho
Com longos espelhos de um poeta escritor
De um ser humano sofredor
Que não vive sequer um segundo sem dominar a arte
Que não pensa sequer um segundo que abandoná-la
Não é parte de uma vida infeliz
Por tão pouco graciosa
Um parnasiano realista
Bucólico romancista
Que já preencheu o vazio de seu coração
E fechou o caderno, já rabiscado
Com rascunhos amontoados
De versos, frases, poesias e textos
De um puro amor casado com uma simples paixão
Um poeta satisfeito com sua faceta
Envolto de emoção

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Deusa do amor

Ouvi de longe um canto suave, encantador, envolto de doçura e mágica. Um tom calmo e enfeitiçador.
Não bastou muito para envolver-me e despertar meu interesse em segui-lo.
Caminhei com passos leves, desconfiados e com um ouvindo atento, apurado. Um efeito sonoro que jamais ouvi antes.
A vi sentada bem perto de um caminho montanhoso, vasto de verde com um céu aberto.
Era um cenário alucinante e impecável.
As belezas se confundiam: mulher, voz e natureza.
Parei perplexo a uma certa distância e já não tinha mais sequer consciência de mim.
Veio em minha direção, ainda cantando e não movi absolutamente um dedo.
Foi a primeira vez que lábios quentes e misteriosos encontravam os meus.
Lábios rosas atraentes, apaixonantes, doces e atrevidos.
Estava dominado por aquela mulher e a queria naquele instante para o resto da vida.
Seu canto invadiu meus ouvidos com seus lábios macios, e dominou meu corpo imóvel.
Num piscar de olhos repentino me vi sozinho.
Belisquei minha pele na tentativa de acordar de um possível sonho.
Apenas me auto judiei.
Era incrivelmente real.
A procurei por todas as partes e nenhum rastro ou pista.
De fato ela se foi.
Um reino a esperava logo ali, em cima dos meus olhos e distante das minhas possibilidades humanas.
O Olimpo era o seu recanto e mal podia acreditar que caí em seu encanto majestoso.
Adeus, Afrodite, meu coração não é mais meu. Levou consigo.
Cante, por favor cante mesmo que distante, mesmo um instante.
A ouvirei com todo o meu amor.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Anjo mau


Um anjo mau de asas quebradas
E veneno nos olhos
Bateu à porta dos meus sonhos
Me oferecendo encantos
Malignos enfeitiçantes
Tão tortuosos e apaixonantes
Quanto seus olhos penetrantes
Fui tentando sobreviver
Ao seu poder atração
Fui amando seu jeito de ser
Sem critério e projeção
Do que queria que fosse
Do mais perfeito ser
Ao doce mel que nos colava
Regredi ao meu sofrer
Por medo de me perder
Em meio a tanto querer
De um ser tão delinquente
Na forma mais eloquente
Quando me tocava
Me deixando ofegante
Num ritmo quente
De um amor ardente
Um anjo mau de cachinhos perfeitos
Ondulados e pretos
De sorriso infantil
Jeito juvenil
E sex appeal viril
Um adulto complexo
Uma relação sem nexo
Um poder e um retrocesso
De um auê de amor
Finito
Enfim
Infinito
Em meu incansável sonho


sábado, 5 de janeiro de 2013

A vida não espera

Meus ouvidos ao som de The Strokes, meu corpo recostado na minha confortável e deliciosa cama e meu pensamento imerso em devaneios e lembranças, um tanto quanto perturbadoras, mas me faziam sentir que a vida ainda pulsava em mim. Meus olhos, por ora abertos, só enxergavam o teto em cor verde claro. Quando fechados, só viam um filme em preto e branco passar em flashes curtos: eu e você e mais tudo o que isso envolvia.

Por um instante me surpreendi com meu celular vibrando. Era quem eu não imaginava que poderia ser, mas no fundo, quem eu gostaria imensamente que fosse: você. Eu só tinha duas opções óbvias, atender ou não atender. Nessa altura do campeonato, a escolhida foi a primeira.

- Oi.

- Oi. Achei que não fosse me atender.

Respirei fundo e continuei.

- Você sabe que eu não deveria, mas um impulso maior me disse que eu tinha que atender.

- Ainda bem que você tem esses bons impulsos.

Contive um sorriso com seu tom de brincadeira.

- O que quer? – Questionei com curiosidade.

- Direto ao ponto? Bom, você.

Gelei.

- Por que então não estamos juntos? Por que nunca tivemos? – Disse com desconforto.

- Por que... ah... talvez nunca nos esforçamos. Mas... quero tentar, eu não penso em outra coisa que não seja estar contigo.

Engoli a seco. Segundos atrás eu fazia o mesmo.

- O que a gente faz? – Disse em meio a essa conversa tão inesperada.

- Ficamos juntos. Só isso. Apenas isso... dá uma chance pra nós dois. Gosto de você e não vejo a hora de te envolver em meus braços e te amar, amar com um beijo, com meu toque, com minhas palavras, com meu olhar.

Engoli a seco novamente. Por essa eu não esperava. Meu coração então começou a me cutucar e pedir pra que eu respondesse com rapidez e à altura. Não sei se consegui.

- Eu estava pensando em você também. Acho que sabe que o que acabou de dizer agora é talvez, o que mais existe em comum entre nós. – Tirei um peso das costas.

- Deixa?

- O que? – Perguntei com inocência.

- Eu cuidar de você, ficar do seu lado e dar todo o amor que eu posso dar pra alguém. Deixa?

Parecia não acreditar no que eu estava ouvindo, mas uma chama de felicidade me dominou. E eu queria, queria muito deixar.

- Não sei por que nem como, mas de algum modo eu estava esperando por isso. Eu quero você!

Desliguei o telefone e fui ser feliz. A vida não espera
.