segunda-feira, 25 de maio de 2015

Enquanto seus olhos forem meus - Parte VII

Ao chegar, deixou a bicicleta no chão da entrada e nem sequer bateu à porta. Saiu entrando, pois sabia que Giulia tinha o costume de não trancar. Subiu as escadas em direção ao quarto e entrou cuspindo as palavras:

- Você não tem o direito de dizer isso e ir embora sem me dar explicação!

Quando se deu conta, viu que Giulia não estava no quarto. Olhou ao redor e não ouviu um barulho sequer.

- Giulia? – Gritou Alice.

- Giulia, eu sei que você está aí, cadê você? – Tentou mais uma vez.

Quando decidiu descer as escadas e procurá-la pela casa, Giulia saiu do banheiro enrolada na toalha.

- Estou aqui.

Alice a olhou de cima a baixo. Giulia estava enrolada em uma toalha de banho azul, com um coque prendendo seu cabelo castanho claro. O olhar de Giulia penetrava os olhos de Alice.

- Vo... você não podia. – Alice gaguejou, um pouco perturbada, sem conseguir falar direito.

- O que eu não podia? – Disse Giulia, enquanto abria o seu closet, em busca de uma roupa para vestir.

Giulia engoliu a seco, respirou e tentou falar outra vez.

- Você não tem direito de fazer o que está fazendo comigo. Muito menos de ter dito aquilo pra mim sem nem se explicar.

Alice escolheu uma calça preta, que combinava perfeitamente com uma blusa branca de manga comprida e a jaqueta de couro, também preta, que havia trazido do Canadá. Deixou com que sua toalha caísse no chão e ficou nua na frente de Giulia, que se manteve estática esperando uma resposta.

- Não posso esconder mais a verdade de você, Alice. Não queria que tivesse falado da forma com que falei, mas você não me deu outra escolha e ainda me mandou embora. Por sinal, está fazendo o que aqui? – Giulia revidou, completamente despida, enquanto procurava uma calcinha e um sutiã.

Alice se sentou na cama e ficou em silêncio.

Giulia, enfim, começou a se vestir e Alice não conseguia tirar os olhos dela.

- Onde você vai? – Perguntou Alice.

- Na casa da Beatriz. – Giulia respondeu rapidamente.

O coração de Alice, que já estava disparado, bateu mais forte e seu semblante mudou. Sua respiração ficou mais forte e uma espécie de raiva começou a tomar conta do seu corpo.

- Entendi. Você vai atrás de mim tentar resolver as coisas, aí eu estou aqui agora pra tentar resolver e você vai pra casa dessa garota. Realmente... o que eu estou fazendo aqui? – Questionou.

Sem titubear, Giulia respondeu, enquanto vestia sua blusa.

- Isso mesmo, Alice. Eu fui atrás de você ontem, hoje... e o que você fez? Nada. Aliás, fez sim, fez com que eu me sentisse uma completa idiota por me importar contigo e com o que a gente tem. Me mandou embora, foi estúpida. Eu não mereço isso.

- Você tem que entender que eu... – Giulia interrompeu Alice.

- Eu não tenho que entender nada, Alice. Eu não quero mais entender nada, falar nada, pensar nada. 

Giulia vestiu a calça preta, mas desistiu ao perceber que estava muito larga. Voltou-se para o seu closet para escolher outra.

Alice se levantou da cama e foi até Giulia. 

- Tá, vai... desculpa. Eu só quero que você entenda que... sei lá, eu também não entendo. Não sei o que está acontecendo.

Giulia parou de mexer em suas roupas e se virou pra Alice.

- Acho que não é a melhor hora pra falarmos disso agora.

- Por que? Tá atrasadinha pra ver a namoradinha? – Disse Alice em tom de deboche.

- Não. Ela não é minha namoradinha. E estou indo encontrá-la porque ela vai ter que voltar pra cidade dela hoje, muito antes dos seus planos. O avô dela morreu. 

Alice levou uma de suas mãos ao rosto, respirou fundo e pegou a mão de Giulia.

- Desculpa. Outra vez. Estamos sendo tão infantis e ridículas. Desculpa. – Alice beijou a mão de Giulia – Desculpa, mesmo.

Giulia assentiu com a cabeça e, com carinho, acariciou o rosto de Alice.

- Tudo bem. Mas, entende que agora não dá. Eu vou levá-la de volta. É o jeito que tenho de ajudar. – Respondeu Giulia.

Alice se corroeu de ciúmes por dentro, mas não demonstrou. 

- Tá. Você quer que eu vá com você? – Sugeriu Alice.

- Não. Obrigada. Vou hoje e volto amanhã. A gente conversa quando eu voltar. Pode ser?

Giulia, enfim, achou a calça que queria e começou a vesti-la. 

- Tudo bem... – Alice concordou, um pouco inconformada.

Giulia levou Beatriz e retornou para sua cidade no dia seguinte. Tentou a todo custo ligar para Alice, mas seu celular só dava na caixa postal. Passou na adega onde sua mãe estava, firme e forte como sempre.

- Oi, minha filha. Como foi lá com a sua amiga? Ela deve estar arrasada, não é mesmo? A viagem de volta foi tranquila, você está bem? 

Giulia deu um sorriso e abraçou a mãe.

- Foi sim, mãe. Tudo certo na ida e na volta, estou sã e salva. E a Beatriz, bom, ela não está bem, né? Mas essas coisas são assim mesmo. – Respondeu dando um beijo na testa da mãe.

- Ai que tristeza. – Sua mãe disse com pena nos olhos.

- Mãe, sabe da Alice? O Sr. Paulo passou por aqui hoje?

- Eles passaram aqui de manhã. O Paulo foi pra Florianópolis, me contou que apareceram dois investidores de surpresa e que o negócio estava quase certo. Comprou até dois vinhos pra levar de presente.

Giulia ficou pensando.

- Então a Alice foi com ele? – Perguntou.

- Foi. Pelo menos a vi no carro.

- Ele falou quando volta? – Giulia perguntou ansiosa.

- Não... vamos comer alguma coisa? Quero fechar aqui. Estou exausta hoje, filha.

Giulia ajudou a mãe a fechar a adega e foram num restaurante japonês a pedido da própria mãe que, apesar de amar sua origem italiana, naquele dia queria outra culinária.

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