segunda-feira, 18 de maio de 2015

Enquanto seus olhos forem meus - Parte VI



Giulia voltou pra casa pensando em tudo que tinha acontecido. No seu envolvimento com Beatriz, no desentendimento com Alice e foi assim durante o resto da noite inteira. Enquanto Beatriz a enchia de mensagens no celular, Giulia apenas esperava por uma única mensagem de Alice. Por inúmeras vezes tentou ligar, mas manteve firme sua opção de deixar que a amiga a procurasse quando estivesse mais calma e disposta a conversar.

No dia seguinte Alice pegou sua bicicleta e foi dar uma volta em um parque muito bonito da cidade. Fazia frio, tão frio que seu casaco de lã não conseguia sustentar. Mas continuou a pedalar.

Aquele dia especificamente estava maravilhoso. Um sol tímido querendo abrir no início da tarde entre nuvens já mansas, sem qualquer possibilidade de chuva, mas um frio castigador de 6 graus em meio a ventos muito gelados. Alice apoiou sua bicicleta em uma árvore e ela sentou com as costas apoiadas do outro lado do tronco, para um pequeno lago, seu local preferido do parque. Colocou o capuz na cabeça, as mãos por dentro do bolso do casaco e fechou os olhos. Não conseguia pensar em outra coisa que não fosse os últimos acontecimentos com Giulia. Alice não conseguia entender porque se sentia tão irritada com a aproximação da amiga com Beatriz e ficou, por alguns instantes, tentando entender seus ciúmes, algo do qual Giulia ainda não havia causado.

O celular de Alice apitou. Era uma mensagem de Giulia:

“O que está fazendo nesse frio que não está tomando um vinho comigo?”

Alice pensou muito se responderia ou não. Mas respondeu:

“Estou colocando os pensamentos em ordem...”

Giulia retornou:

“No frio, no meio do parque, com tantos lugares melhores, inclusive a minha casa?”

Alice se assustou, olhou ao redor para tentar procurar Giulia, mas não a encontrou.

“Como você sabe que estou na rua? Você está aqui?” – respondeu ainda procurando a amiga ao redor.

“Estive na sua casa e o seu pai me disse que você tinha saído de bicicleta... lembrei que viemos muito aqui de bike.”

“Espera... viemos aqui... então você está aqui? Giulia, para de brincadeira”.

Não deu dois minutos e Giulia apareceu na frente de Alice.

- Estou aqui, sim.

Alice a olhou, sem reação e nada respondeu.

Giulia se sentou ao lado Alice.

- Sabe... Eu queria muito entender porque você está agindo assim. Não faz o menor sentido. – Disse Giulia.

Alice continuou calada.

- Será que você pode me responder, ou será que vou ter que fazer essas perguntas pelo telefone? – Giulia respondeu, já sem paciência.

- Cara, não sei. Não sei de nada e não adianta ficar querendo falar disso. Nem eu quero falar, eu acho. 

- Alice, por favor, para com isso. Não somos mais crianças e pelo amor de Deus, agindo assim parece que vo... – Alice interrompeu.

- Você fala como se quem tivesse feito merda fui eu, né? Você sempre se faz de vítima, engraçado como certas coisas não mudam.

- Não estou me fazendo de vítima, Alice. Não sei mesmo o que tá acontecendo contigo. Como você disse, certas coisas não mudam, mas outras mudam, sim. Estou vendo que você mudou bastante. 

- Me deixa sozinha, Giulia. Em momento algum pedi pra vir atrás de mim. Você mesma disse pra eu te procurar quando estivesse disposta e não te procurei. Entende que ainda não é a hora? – Alice disse impaciente.

- Tá bom. Você tem razão. Sou uma idiota de ter vindo atrás de você. Mas tudo bem. Só vim tentar resolver as coisas e dizer que eu te amo. Te amo muito e estou sentindo sua falta. Não gosto desse clima, já estive fora por muito tempo, agora que estou do seu lado é aqui que quero ficar.

- Engraçado que você não sente minha falta quando está com a Beatriz. Vai embora. Não quero ouvir mais nada.

Alice se revoltou, levantou, saiu andando e, com muita raiva, revidou:

- Talvez porque a Beatriz me dá o que eu quero de você há muito tempo e você não se toca. Você é uma babaca, Alice. 

Giulia desapareceu no parque, em meio a lágrimas contidas. Alice não segurou as suas e levou as mãos ao rosto. Minutos depois, repensando no papo, Alice se lembrou do que Giulia falou: “Talvez porque a Beatriz me dá o que eu quero de você há muito tempo e você não se toca”.

Alice pegou sua bicicleta e pedalou com muita pressa para a casa de Giulia.

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