domingo, 28 de abril de 2013

Entrevista com o diabo

- Então, senhorita Valentina, podemos dar início a nossa entrevista?

- O quanto mais rápido, melhor.

- Andei pesquisando sobre sua vida e vi que você escreve há muito tempo. Como foi esse começo pra você?

- Olha, meu caro, se pesquisou sobre mim e não encontrou resposta pra essa pergunta, acredito que tenha pesquisado muito mal, pois já a respondi milhões de vezes a milhões de repórteres mais engajados que você, eu diria. Procure mais uma vez e vai achar.

- Desculpe-me, senhorita, eu apenas estou fazendo o meu trab...

- Por que me chama de senhorita?

- É uma forma de manter um determinado respeito e formalidade. Posso chama-la de Valentina somente se preferir.

- O meu nome é Valentina, se pesquisou bem, não tenho um primeiro nome cujo se chama ‘senhorita’.

- Desculpe-me mais uma vez, Valentina. Dando prosseguimento, queria saber como é o seu processo de criação, como se inspira e se usa algum método.

- Mais uma vez vi que não pesquisou direito, quiçá absolutamente nada. Meu bem, numa próxima vá fundo. Eu ainda sou muito paciente com vocês.

- Mas Valentina, é apenas o meu trabalho, preciso da resposta para essas perguntas feitas por mim, não posso simplesmente copiar e colar o que outro colega já fez.

- Problema é seu, garoto. Fizesse perguntas mais criativas e originais. Acho que nossa entrevista já acabou. Ronaldo, meu cigarro e meu licor, esse blábláblá me deu dor de cabeça.

- Valentina, não posso entregar a meu chefe as perguntas em branco, muito menos publicar que você é uma escritora altamente grossa e estúpida.

- Acho que estamos começando a querer caminhar, garoto. Conseguiu descobrir que sou grossa e estúpida e me falou. Normalmente seus colegas não falam isso. Está de parabéns por essa iniciativa. Vá, leve essa impressão sobre mim e publique na revista a qual trabalha. Não me importo.

Ronaldo chega com um cigarro, o acende e serve a Valentina licor que pediu.

- Valentina, está abrindo brechas para que eu escreva o que eu quiser a respeito das impressões que tive e isso pode não ser bom para a sua imagem.

- Quem liga para imagem é modelo, ator, atriz, artista. Não sou nada disso. Não quero saber o que pensam sobre mim, o que publicam, o que não gostam. Eu quero viver da minha arte sem ter que ser quem a mídia quer que eu seja. Sem que vocês, repórteres, queiram ou desejam que eu seja numa entrevista reveladora ou apenas em mais uma igual a outras. Eu sou isso aqui, apenas isso. Um cigarro aceso, um bom licor e um turbilhão de verdades e grosserias.

- Você é mais que isso, não acha que sua arte lhe faça alguém melhor, Valentina?

- Minha arte não faz nada de mim a não ser o que eu deseje no momento. Não é a arte que faz ou deixa de fazer qualquer coisa em minha vida. Eu a levo para o caminho o qual ache melhor. E esse melhor pode não ser o que é o melhor aos olhos de qualquer outro ser humano normal.

- Você não se acha normal?

- Sou normal, sou um ser humano como você. Apenas sou quem sou sem medir qualquer consequência de meus atos e de minhas palavras. Sou quem eu quero ser, no momento que desejo. Posso ser um de meus personagens ou uma de minhas poesias. Posso ser o diabo se eu quiser.

- E nesse momento, o que és?

- O próprio.

2 comentários:

  1. Intrigante! É legal ler nas entrelinhas a mensagem que o texto quer passar. E também achei inteligente, a forma como delineou seu escrito. No começo tive uma impressão sobre a entrevistada, mas com o passar da leitura, a impressão muda e se chega ao verdadeiro 'fim' que você queria passar.

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    1. Acho que foi o texto mais crítico que já fiz sem deixar totalmente na cara.
      Gosto dessa coisa as entrelinhas.
      Legal que você captou!

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