segunda-feira, 4 de abril de 2011

Prosopopéia

Por vezes imagino como um objeto seria se tivesse sentimentos.
O que será que os descartáveis pensariam quando descobrissem que sua vida útil era pequena e que a 'paixão' por eles era só puro interesse?
O que sentiria o computador, celular, a chave de casa, o carro quando descobrissem que eram amados apenas por sua funcionalidade, mas que seus respectivos donos viveriam plenamente sem eles?
Tudo bem, salvo exceções. O que tem de gente materialista por aí... Acredito que alguns objetos se sentiriam amados infinitamente. Esses não se importariam com o fato do tamanho amor estar diretamente ligado ao interesse. Afinal, o que é o interesse perto do amor?
Estou me sentindo um objeto. Cada dia um objeto diferente. Um dia descartável, outro dia reciclável (e esse é o que mais está durando, obviamente), outro dia um de vida útil pequeníssima e num outro, um sem qualquer valor que só existe por existir. Talvez de enfeite.
Acho que o problema está em mim. Trato os outros como gostaria de ser tratada e inconscientemente espero ser tratada da mesma forma. A famosa expectativa.
Pode ser também o fato de eu sempre colocar o próximo em primeiro lugar, primeiro eles e depois eu. Bondade demais ou ingênuidade demais? Que seja... Sempre fui assim.
Preciso ser egoísta. Preciso me amar mais.
Sou a personificação de um objeto com sentimentos que não se dá o próprio valor.
Espera aí, não, eu não sou um objeto. Quem tentou me converncer disso?
Quem está pensando aí: "você mesma se convenceu disso" - Errou.
Estou falando como você me vê, você já me aceitou assim. É mais convincente, mais vantajoso e mais interessante. Não?
Não sou um objeto de vidro que ao se quebrar possa te machucar.
Não sou um objeto 'perfeito' como o Titanic pretendia ser. Ele afundou.
Não sou um celular para servir de ponte de comunicação, muito menos um computador para atender as mais diversas necessidades do que chamamos de mundo moderno.
Sou mortal. De carne e osso. De músculos, de cérebro, de coração. De coração, ora bolas. Ele bate, ele sente.
Mas para você, assim como para a literatura, sou uma simples prosopopéia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário